MARGS apresenta retrospectiva de Marilia Fayh

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli tem a honra de apresentar a exposição “Marilia Fayh: esculturas e gravuras”, no dia 9 de junho, às 18h30min, com entrada franca. A mostra com curadoria de André Venzon, pode ser visitada de 10 de junho a 3 de julho, nas galerias Oscar Boeira e Iberê Camargo do MARGS. São cerca de 60 esculturas e 20 litografias que celebram a figura humana com delicadeza e movimento, ternura e subjetividade. Algumas esculturas, todas em bronze, chegam a alcançar grandes proporções, medindo até 1,80 metros e representam, em grande parte, o corpo feminino, desnudando sua interioridade.

No dia 9 de junho também será lançado o livro que acompanha a exposição com a retrospectiva dos 30 anos de trabalho da artista, intitulado “Marilia Fayh: esculturas e gravuras”. A obra trata do processo de criação de Marilia e da importância da fundição no seu trabalho, trazendo inclusive, um depoimento do reconhecido fundidor e artista Jamil Fraga, que a acompanha durante toda a carreira, além de textos de Paulo Amaral, André Venzon, Armindo Trevisan, Danúbio Gonçalves, Italo Evangelisti, Ney Fayet Júnior e da própria artista, além de uma entrevista com ela para a Federação Brasileira de Psicanálise. O livro será lançado na abertura da mostra com sessão de autógrafos e preço especial e, depois, poderá ser adquirido na Loja do MARGS e nas livrarias especializadas.

A exposição pode ser visitada de terças a domingos, das 10h às 19h, com entrada gratuita. Visitas mediadas podem ser agendadas pelo e-mail educativo@margs.rs.gov.br.

 

 

Para saber mais:

Gosto do meu lugar no mundo

e como eu gosto de te ter dentro de mim.

Depois, fora de mim.

E mais tarde serás maior que eu.

Desejo que teus olhos sejam sensíveis o bastante,

para perceber e capturar

o quanto existe de bom neste mundo.

Diário de Alecrim, 2013

Marilia Fayh

“Cartas para minha barriga”, Diários de Alecrim,  2013.

 

EU E A ESPERA

MARILIA FAYH, 30 ANOS DE ARTE

Para um artista, fazer a curadoria de um outro artista é uma experiência fora de si  – desligar-se do seu mundo para conectar-se com o outro, para aventurar-se em um universo desconhecido. Marilia Fayh é uma artista porque compreende esta beleza de experimentar, para quem a arte é vida, para quem os artistas são pessoas e as pessoas são arte.

O artista francês Marcel Duchamp demonstrou, com o próprio exemplo, que o objetivo da arte não é a obra em si, mas a liberdade de fazê-la. E, para Marilia, a liberdade da arte significa a liberdade de ser e, principalmente, a franqueza de “levar suas asas pelo lado de dentro”.

E o que Marilia Fayh procura na escultura senão a si mesma?

Sua obra é modelo da suavidade do corpo. Lila, Alessandra, Aline, Ana, Luiza, Pandora, Ricota, Alda, Clarissa, Teresa, Marcela, Mariana, Giovana, Vivian, Carolina, Deuzari são nomes que batizam algumas de suas criações, porém poderiam ser igualmente pseudônimos de uma só pessoa, a artista. Pois é ela que repousa no conforto feminino de todas essas formas.

Em contraste com a tensão do movimento de suas primeiras obras, as atuais parecem caladas e inertes, ocultando olhos e boca. Como penetrá-las a não ser pela superfície da pele? Figuras próprias da artista que habitam entre o real e o imaginário e para quem o rosto pode também ser uma paisagem interior.

Então olhos e boca se voltam para dentro de um corpo que habita primeiro em Marilia. Nesses corpos compartilhados mergulhamos instintivamente para descobrir que os verdadeiros olhos e boca estão em nós. Assim a imagem se preenche.

Antes do barro perder seu significado para a gravidade do bronze, um véu de ternura dá calor humano às peças. O gesto da artista ao delinear o corpo da figura é comparável à sensação de quando alguém nos dá a mão e sentimos a emoção que o calor da palma do outro imprime em nossa pele.

As obras físicas que nascem da expressividade das mãos da artista, são de barro, água, ar e fogo, mas ela as sente até a ponta dos dedos. E assim como na Terra de Oz, em que o inesquecível personagem do autor americano L. Frank Baum, o Homem de Lata, queria um coração, as obras de Marilia são metáforas para o sentimento, elas (e ela) também desejam um coração que lhes dê alma. Como o corpo anseia pelo espírito.

São esculturas desprovidas de discurso, uma vez que estão providas da artista. Uma artista não apenas para os eruditos, mas sobretudo para o ser humano, este é o caminho que a obra de Marilia Fayh constrói. Busca por uma força passional que comunique emoções essenciais ao público, que faça sentir a presença dessas figuras ainda que não as virmos mais.

O que ver ainda nas esculturas de Marilia, além de que vale a pena observar o humano? Aquele que porta a simplicidade de mostrar aquilo que se passa, que se vê. E se não vê nada quando olha para fora, olha para dentro e, novamente, lembra de “desejar a alma”.

Assim a artista conquista essa habilidade de transformar o menor assunto num enorme sentir. Essa singeleza de origem que a permite criar. Sua participação artística se define por ela mesma “como pingos de chuva”, e desse modo apreende seu lugar no mundo e na arte.

O cabelo, solto ou em forma de trança, é um elemento recorrente na poética de Marilia. Ao mesmo tempo em que ele remete ao corpo, também está carregado de informações que ampliam as possíveis leituras dos seus trabalhos. Repletos de simbolismos diversos, na maioria das vezes é sentido de fertilidade e força vital. União entre o corpo físico e espiritual, os fios de cabelo são também signo de passado e memória da artista.

Essa é sua história de amor com a obra, feita do seu jeito, um projeto de vida único, de uma relação com a matéria de que são feitas, do início ao fim. Do amassar o barro à fundição, Marilia sabe que o amor é o que faz a sua obra e nos faz repletos.

Alfabetizada nas letras pela mãe, nas artes pelo tio Valdir e na vida pelo “muro” − em que aprendeu a caminhar e a se equilibrar praticamente sozinha –,  o receio do abismo deu lugar a um alicerce interior que se tornou invisível com o silêncio do tempo, só rompido pelo ato de escrever. Logo, sua filiação e outras reminiscências insurgem nos aspectos lúdicos e nostálgicos de uma intensa produção artística.

Sem medo de errar, segue o destino de um “olhar captador” que observa a leveza do mundo, que trilha uma via de expressão para onde só a arte pode nos levar. Um caminho como a música, que aprendeu visualmente a tocar no piano quando criança e despertou a alma nas suas mãos e a coragem no seu peito. Sobre o teclado, cada nota se transformou em passos rumo ao infinito.

E seu ateliê é esse lugar, porque ali se dá a gênese criativa e onde se descobre a artista até então imersa numa experiência cósmica. Momento em que fazer cada peça é desnudar-se da sua própria pele. Processo que requer tempo, tranquilidade e solitude.

Para Marilia Fayh, viver não deixa de ser uma longa espera. Se porventura suas figuras estão no entreato de movimento ou remanso, constituem novamente a imagem de traslado da vida. Na solidez da solidão, suas esculturas nos atraem antes de tudo pela serenidade dos corpos, para depois nos defrontar com a questão do eterno retorno existencial de quem as aguarda… Da esperança desse encontro, entre o eu da artista e o nosso, resplandece um sol de sentidos.

André Venzon – Artista visual e curador

 

 

SOBRE MARILIA FAYH

À sua arte, como legítima expressão, nada mais deve o artista que dar-se a si próprio, isto é, revelar o seu retrato. Inicio essa afirmação a propósito de Marilia Fayh, artista brasileira que introduz nesta temporada de 2016 a sua primeira mostra individual no Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, um dos principais museus de arte do Brasil. Tardava já, porquanto a artista apresenta longa e celebrada carreira no Brasil e no exterior, entre exposições individuais e coletivas. Mas voltemos agora ao preâmbulo deste texto, para dizer que as esculturas de Marilia representam a si própria, a artista, por aquilo que dela se pode depreender numa breve conversa – aberta que é Marilia a confissões as mais legítimas – e pela revelação inequívoca de sua maestria como escultora que naturalmente se impôs em nosso meio. Penso que a artista, durante esses longos anos, escreveu, como em seu livro Diário de Alecrim, nada menos do que retratos da própria vida. Graduada no curso de Comunicação e Publicidade da PUC-RS em 1979, Marilia Fayh não esperou mais de um ano para fazer rumar sua nave criativa em direção às artes visuais pelas quais acreditava desvendar o verdadeiro e talvez único caminho ao encontro da realização pessoal. E revelou-se, assim, e com a propriedade de quem ocupa nas artes visuais um espaço prévia e meritoriamente reservado, guardiã de preceitos estéticos tão contestados pela arte contemporânea que deles – embora se negue – valeu-se para chegar ao lugar em que hoje se encontra. Em arte ninguém inventa, tudo já foi visto, tudo apenas vive e anda em transformação, e é este o movimento que, graças a alguns insistentes artistas de muitas épocas, entre os quais Fayh, alheia a denominações teóricas e assaz demagógicas, permite à verdadeira arte não interromper-se em seus nobres desígnios. Aqui, em especial, citamos a expressão escultórica, em geral aquela que representa, pelas três dimensões que inclui, a via tradicionalmente mais completa e representativa do conjunto estético. Em Marilia Fayh, podemos encontrar renovadas lições de grandes mestres – e aí poderíamos citar muitos –, mas sua arte muito feminina, de superfícies lisas e bem tratadas, carrega, sobretudo, o seu próprio e indissociável discurso, patrimônio adquirido ao longo de longa trajetória. Marilia insiste em sua mensagem muito particular por meio daqueles mestres cujos ensinamentos assimilou e fez preservar. A artista tem extensa escola, em essência na escultura, mas também no desenho e na pintura, que são esses a base da compreensão da primeira, participando de cursos com Fernando Baril, Danúbio Gonçalves, Carmem Moralles, Mario Cladera e outros. Já não estamos frente a uma simples e ignota promessa, senão diante de resultado prometido: a boa arte. O Museu de Arte do Rio Grande do Sul, terra da artista, completa em sua agenda uma lacuna, a quase quitação de uma dívida institucional, ao apresentar Marilia Fayh, escultora.

Paulo C. Amaral – Diretor do MARGS

 

 

 

Muito se evidenciou que a arte reflete a cardiografia do artista. Espelhando sim a personalidade do autor ou digitando etapas existenciais. Por aí, Marilia Fayh, na escultura extravasa energia. Na Pintura, na litografia, encontramos o simbolismo da bicicleta, possivelmente eco dessa mobilidade peralta que é seu jeito de ser.

Podemos ler nas suas imagens, nos recursos táteis da argila, o transparente apetite de viver. Emprestando sinuosidade aos membros modelados em solidária ternura, fundidos em bronze ou no alumínio patinado.

Impetuosa no vôo coreográfico de sua dança ou no repouso sensual de sua estatuária.

Danúbio Gonçalves- Artista Plástico

 

 

A ESCULTURA DE MARILIA FAYH

Marilia escolheu a modelagem como sua arte predileta. Escolheu também, a imitação do ser vivente como seu objetivo artístico. No exercício de sua atividade artística utiliza, num primeiro momento, a argila, matéria primordial e extremamente frágil. Num segundo momento converte sua modelagem num objeto duas vezes mais imóvel do que qualquer outro tipo de escultura, que não o bronze, no qual produz suas ficções. O bronze resiste ao tempo, e é de certo modo eterno. Marilia ama o bronze, ciente de que esse material, entre outras coisas, lhe permite conservar as primeiras impressões digitais de seu fazer artístico.

O objetivo essencial do fazer artístico é sugerir – isto é, apresentar a parte pelo todo, para que a imaginação converta o espectador em coparticipante do ato modelador.

Eis por que Marilia não se detém na nudez em si – visto que quase todas as suas peças aparecem vestidas. Na iconografia cristã, Adão e Eva sempre se subtraíram à censura que o Cristianismo fez incidir sobre o nu greco-romano. Adão e Eva foram normalmente representados na sua condição de casal humano, criados para a perpetuação da prole.

Em vista disso, Marilia valoriza o que no corpo, ao mesmo tempo a revela e ao mesmo tempo a encobre. As poses de suas peças celebram propriamente o mistério da união alma e corpo, através dos artifícios da forma. A escultora não suprime, propriamente, o erotismo. Prefere sugeri-lo no que ele oferece de corporalmente encantador, e de subliminarmente valioso para a existência humana.

As esculturas de Marilia tratam, pois, com delicadeza e naturalidade, particularmente o corpo de mulheres jovens. Há qualquer coisa de puro e existencialmente ligado à ternura nesses corpos, que por assim dizer, figuram a aurora da vida, e suas promessas.

O contemplador de tais produções percebe que a artista, inclusive nas suas esculturas aparentemente mais decorativas, está consciente – e francamente atenta – às ciladas do prazer volátil. Nas suas melhores peças, o contemplador descobre uma sorte de diafaneidade, atravessada por vezes de uma leve sombra de melancolia, que evoca a apreensão do futuro, que nem sempre cumpre suas promessas. As adolescentes de Marilia sugerem um estado psicológico original: são personagens otimistas, mas que olham para o porvir com um misto de esperança, e de temor.

Na sua condição de escultora, ela pode ser considerada uma poeta do corpo feminino. Uma poeta, principalmente, de corpos inaugurais, não se esquecendo, porém, que o que existiu uma vez, conservará sempre sua memória material e psíquica até ao fim. Eis porque, nos últimos anos, a escultora preocupou-se também em figurar mulheres na sua maturidade completa, e até mesmo na doce placidez da velhice.

A escultora recebeu de “seus sonhos” um dom precioso: o de acreditar na candura dos outros, na bondade primitiva do ser humano, no anseio que a humanidade ainda hoje nutre de buscar uma solução de bem-estar e paz para a comunidade humana.

Armindo Trevisan- Professor, poeta, escritor e teólogo

 

 

SOBRE A ARTISTA:

 

Nascida em 1956, Marilia Fayh é natural de Porto Alegre/RS. Escultora, gravadora e pintora — traz em seu currículo exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Possui premiações internacionais, assim como obras em vários acervos públicos coleções privadas em diversos países. Formada em Publicidade e Propaganda pela PUCRS (1978), frequentou o Atelier Livre de Porto Alegre, de 1980 a 1999, passando por diversas oficinas de arte, estudando e praticando além de desenho, pintura, escultura e gravura, cursos em ateliês particulares. Em 1995, inaugurou seu ateliê onde atua e recebe o público interessado em sua obra.

Agende sua visita pelo site: www.mariliafayh.com.br

 

Crédito da Foto: Fernando Zago

 

APOIO

Design de Ateliê

Numa Editora

Arte e Plantas

Celulose Riograndense

Café do MARGS

AAMARGS

 

REALIZAÇÃO

Secretaria de Estado da Cultura

Governo do Estado do Rio Grande do Sul

Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli

 

Exposição e lançamento de livro “MARILIA FAYH: ESCULTURAS E GRAVURAS”

 

Abertura: dia 9 de junho, às 18h30min

Visitação: de 10 de junho a 03 de julho

Local: Galerias Oscar Boeira e Iberê Camargo do MARGS

Museu de Arte do Rio Grande do Sul – Ado Malagoli

Localização: Praça da Alfândega, s./n.

Centro Histórico, Porto Alegre

Telefone: 32272311

Entrada Franca

Site: www.margs.rs.gov.br

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