O Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) apresenta a exposição “Bruno Borne — Ponto vernal”, que consiste em uma videoinstalação concebida especialmente para este espaço. A curadoria é do duo Ío, formado pelos artistas e pesquisadores Laura Cattani e Munir Klamt, este também integrante do Comitê de Curadoria do MARGS.
Inaugurada em 14.12.2019 e interrompida em 18.03.2020 em razão do fechamento do Museu em enfrentamento à pandemia do Covid-19, a mostra retorna com a reabertura em 22.10.2020, juntamente a 3 exposições temporárias e novidades na mostra de longa duração do Acervo Artístico do Museu.
As exposições seguem em exibição até 01.12.2020. Com o encerramento simultâneo de todas as exposições e suas desmontagens, o MARGS fecha à visitação do público a fim de estar em condições de receber a reforma de melhorias, que envolve a substituição do sistema de climatização e o restauro arquitetônico da parte superior do prédio do Museu. A previsão é que esta parte da obra do sistema de climatização seja concluída até março de 2021, permitindo a partir daí a reabertura do Museu para visitação pública com o gradual e parcial retorno das exposições. Já a reforma arquitetônica — que envolve o terraço, a claraboia e os quatro torreões do prédio — prosseguirá nos meses seguintes, com conclusão prevista para setembro de 2021.
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O artista e sua pesquisa
Graduado em Artes Visuais e Arquitetura e Urbanismo, e atualmente doutorando em Poéticas Visuais (PPGAV-UFRGS), Bruno Borne (1979) produz obras relacionando o ambiente de exposição, a arquitetura, a obra e o espectador através de projeções e imagens em computação gráfica.
Em sua pesquisa, trata de conceitos como o tempo e o espaço, utilizando luz, som, reflexos, espelhamentos e multiplicação de espaços e formas arquitetônicas.
Assim, procura discutir questões relativas ao espaço e à virtualidade, utilizando meios tecnológicos e digitais para propor a criação de ambientes virtuais através da articulação entre arquitetura, registro fotográfico e as especificidades do local. Como técnica, desenvolve imagens por meio de simulações de computação gráfica apresentadas em videoinstalações ou impressões digitais. Utiliza como suporte espelhos, objetos escultóricos em marcenaria, acrílicos e tecidos.
Videoinstalação nas Salas Negras
Para as Salas Negras, o artista concebeu um projeto especialmente para as características e especificidades deste espaço, composto por duas obras que operam com vídeo, som e computação gráfica. Assim, o ambiente expositivo será ocupado por uma videoinstalação que lida com luz, imagens e sons, convidando o público a uma experiência visual, espacial e sensorial.
Tomado como título da exposição e como fundamentação conceitual dos trabalhos, “Ponto vernal” se relaciona ao período da exposição, que se dará entre o solstício e o equinócio. Em astronomia, o ponto vernal é o ponto da esfera celeste determinado pela posição do sol quando este, movendo-se pela eclíptica, cruza o equador celeste, determinando o equinócio de primavera para o hemisfério norte e o de outono para o hemisfério sul.
Desse modo, entre dezembro e março, o artista executará alterações no trabalho, que resultarão em novas e distintas experiências visuais, espaciais e sensoriais.
Um dos trabalhos, “Perihelion #1”, parte da ideia do movimento de transição entre o solstício e o equinócio terrestre. Um feixe de luz em forma de elipse se expande e se contrai em ciclos de 1 minuto marcados pelo soar de um sino. Ao longo dos 90 dias de exposição (período de transição entre o solstício e equinócio), essa forma luminosa projetada irá se transformar de uma elipse para um círculo. Para sua realização, foi desenvolvido um sistema de computação gráfica que transforma uma imagem captada em tempo real do céu. Esta luz é processada e projetada dentro do ambiente de exposição em um espelho metálico convexo que reflete e ilumina a sala negra, alternando momentos de escuridão e claridade.
O outro trabalho, “Aurora #2”, consiste em uma linha de metal espelhado, colocada na altura média do observador (165 cm) sobre a parede de projeção. O vídeo tem 2 minutos de duração e é composto de uma animação digital em que uma forma cilíndrica gira lentamente sobre esta linha metálica horizontal, registrando uma porção de céu limpo de nuvens e objetos captando as variações de cor e luminosidade desde o nascer do sol (a aurora) até o poente por meio de um registro em time-lapse processado digitalmente. Durante este ciclo, o som do ambiente apresenta ruídos naturais como o vento, movimentos de folhas e árvores e o cantar de pássaros.
Um novo ciclo expositivo
“Bruno Borne — Ponto vernal” dá início nas Salas Negras a um ciclo de exposições intitulado “Poéticas do agora”, dedicado a artistas atuais cuja produção e pesquisas recentes em poéticas visuais têm se mostrado promissora e relevante no campo artístico contemporâneo. Não se trata de algo novo ou estranho na história do museu, a considerar o Espaço Investigação que o MARGS manteve nos anos 1980, sempre lembrado por ter sido responsável pela projeção de muitos artistas então jovens, e que hoje figuram como grandes nomes da nossa arte.
Assim como nesta mostra de Bruno Borne, as próximas exposições do ciclo privilegiarão projetos propostos e concebidos especialmente para as Salas Negras. O objetivo é valorizar produções em poéticas visuais artísticas que investem na pesquisa de linguagem, e que exploram a experimentação e a transdisciplinariedade dos meios, operações e procedimentos.
Biografia resumida
Bruno Borne (1979) vive e trabalha em Porto Alegre, RS. É atualmente doutorando em Poéticas Visuais no PPGAV UFRGS, graduado em Artes Visuais e Arquitetura e Urbanismo.
Produz obras relacionando o ambiente de exposição, arquitetura, obra e espectador através de projeções e imagens em computação gráfica. Em sua pesquisa, trata de conceitos como o tempo e o espaço, utilizando a luz, o som, reflexões, espelhamentos e multiplicação de espaços e formas arquitetônicas.
Como técnica, desenvolve as imagens por meio de simulações de computação gráfica apresentadas por meio de videoinstalações ou de impressões digitais. Utiliza como suporte espelhos, objetos escultóricos em marcenaria, acrílicos e tecidos.
Desde 2010 tem realizado exposições individuais e participado de mostras coletivas em diversas cidades do Brasil.
Conquistou prêmios aquisição nacionais como o 65º Salão Paranaense em 2014 e o 43º Salão de Arte Contemporânea de Santo André em 2015.
Foi vencedor no 2ª Prêmio IEAVI – Incentivo à produção de Artes Visuais (2013) e ganhou o Prêmio Açorianos de Artes Plásticas na categoria Destaque em Mídias Tecnológicas em 2011, 2014, 2015 e 2016.
Tem obras no Acervo artístico da Prefeitura de Santo André, SP; Acervo do MACPR – Museu de Arte Contemporânea do Paraná; MACRS – Museu de Arte Contemporânea do RS e Acervo Artístico da Prefeitura de Porto Alegre, Pinacoteca Aldo Locatelli.
Texto curatorial
“Bruno Borne – Ponto vernal”
No hemisfério sul, o Ponto Vernal marca o equinócio de outono, quando a natureza inicia um gradual processo de despojamento, de economia de recursos, de essencialidade. Essas são propriedades que nos habilitam a discernir as forças latentes desta exposição.
A metodologia borniana tem se constituído na escolha e delimitação de um fragmento do mundo: um lugar no qual, através de sua duplicação virtual, a obra será evocada, como em um processo de mise em abyme. Como um falsificador, Bruno Borne reconstrói cada ínfimo detalhe: os veios da rocha no chão, as linhas condutivas das paredes e a reflexão do metal; mas estarão equivocados os que entenderem em seus gestos a busca da mimese: são fantasmas que são conjurados. Fantasmas de dimensões convolutas, ocultas aos nossos sentidos, universos compossíveis, labirintos improváveis de um sonho-pesadelo.
É normal, portanto, aproximar os trabalhos de Borne dos calabouços barrocos de Piranesi ou dos paradoxos estruturais de Escher ou, ainda, das galerias de espelhos deformantes. Mas estaríamos olhando na direção errada, pois há, na obra de Bruno Borne, um vazio nuclear no qual a matéria e a perspectiva são engendradas e do qual emanam. É neste âmago em que temporalidades múltiplas se condensam que está o cerne de seu ato demiúrgico, e é a partir deste que devemos recorrer, como a uma chave mestra, para apreender as obras.
Aurora (Eos, na mitologia Grega) irrompe da escuridão – símbolo do caos e do vazio. A luz frágil do nascer do dia é da ordem do ícone bizantino, pois, apesar de presente neste mundo, o seu lugar é transcendente. O que ressoa em “Aurora” (2019) é o fascínio pela precisão cósmica, e suas transmutações em mitos, junto a seus irmãos Sol e Lua (Hélio e Selene). Na instalação de Borne, uma estreita linha horizontal – espécie de horizonte – é gradualmente envolta por uma projeção vertical do céu de um único dia, compactado em um breve instante, em suas variações de luz. Neste céu vazio e intangível, Borne se despoja da matéria e se move em direção da imaterialidade do tempo.
Em “Perihelio” (2019) a exatidão dos ciclos e o fetiche das órbitas pulsa. O céu sobre o MARGS é captado, reprocessado e projetado, em tempo real, no interior da sala, como uma câmera obscura. Neste engenhoso processo, relógios concêntricos são postos em ação. O primeiro, uma elipse, tem um ciclo de um minuto, indo da escuridão à luz intensa, junto a um som que, sinestesicamente, funciona como um sino de anunciação. O segundo dura uma hora, marcando a rotação em torno de um espelho convexo circular (espécie de lua, que reflete e difunde a luz do céu no ambiente). O terceiro circuito se estende do solstício de verão até seu equinócio.
No decorrer de “Ponto vernal”, talvez sejamos tomados pela intuição de não estarmos exatamente diante uma exposição, mas de um maquinário engastado ou uma espiral, como um redemoinho, no qual a força do tempo nos arrasta, em sua titânica delicadeza, em direção do ponto cego dos seus mistérios.
Ío
Curadoria da exposição
Palavra do diretor-curador
O MARGS é uma instituição museológica voltada à história da arte, cujo compromisso tem sido reafirmado na atual gestão, com a convicção de que o museu deve trabalhar a memória artística em relação e envolvimento com o processo criador e a produção artística atual.
Entendemos que o museu tem como atribuição revisitar, reexaminar e reavaliar o passado artístico; ao mesmo tempo estando próximo das manifestações, linguagens e investigações empreendidas pelos artistas no presente. Ou seja, que cabe ao museu focalizar a história da arte, dando também lugar às pesquisas recentes em poéticas visuais, enquanto instância de inserção e legitimação de novos valores e sentidos artísticos.
É nossa convicção que, ao criar aproximações entre a produção histórica e as práticas artísticas atuais, encontramos modos de aprofundar e intensificar as formas de conhecimento e experiência sensível, renovando o entendimento sobre o que a arte pode comportar e proporcionar.
Essa é uma visão que questiona a noção de contemporâneo como aquilo que designa o que viria após os modernismos e, portanto, apenas e exatamente aquilo que se teria por arte hoje. Em lugar, entendemos que o contemporâneo compreende diferentes e múltiplos tempos, os quais coabitam e coexistem sem hierarquias, mas em tensionamento; compondo uma temporalidade complexa, uma mistura de passado, presente e mesmo futuro.
Com a individual “Bruno Borne — Ponto vernal”, o MARGS dá agora início nas Salas Negras ao ciclo de exposições “Poéticas do agora”, dedicado a artistas atuais cuja produção recente tem se mostrado promissora e relevante no campo artístico contemporâneo. Não se trata de algo novo ou estranho na história do museu, a considerar o Espaço Investigação que o MARGS manteve nos anos 1980, sempre lembrado por ter sido responsável pela projeção de muitos artistas então jovens, e que hoje figuram como grandes nomes da nossa arte.
Assim como nesta mostra de Bruno Borne — que apresenta dois trabalhos inéditos, compondo uma instalação visual e sonora —, as próximas exposições do ciclo privilegiarão projetos pensados e propostos especialmente para as Salas Negras. O objetivo é valorizar produções em poéticas visuais artísticas que investem na pesquisa e experimentação de linguagem, bem como na transdisciplinaridade dos meios, operações e procedimentos.
Francisco Dalcol
Diretor-curador do MARGS
Doutor em Teoria, Crítica e História da Arte
SERVIÇO
Bruno Borne – Ponto vernal
Curadoria: Ío
Visitação: inaugurada em 14.12.2019 e interrompida em 18.03.2020 em razão do fechamento do Museu em enfrentamento à pandemia do Covid-19, a mostra retorna com a reabertura em 22.10.2020, juntamente a 3 exposições temporárias e novidades na mostra de longa duração do Acervo Artístico do Museu, encerrando em 01.12.2020.
Local: Salas Negras do MARGS
Entrada gratuita
MUSEU DE ARTE DO RIO GRANDE DO SUL – MARGS
Patrocínio
Banrisul Vero
BRDE
Sulgás
Apoio
Café do MARGS
Banca do livro
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Arteplantas
Celulose Riograndense
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iSend
Realização
Governo do Estado do Rio Grande do Sul
Secretaria de Estado da Cultura do RS
MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul
AAMARGS – Associação dos Amigos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul
MARGS
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Centro Histórico, Porto Alegre, RS
90010-150
Visitação de terça a domingo, 10h às 19h, entrada gratuita
Telefone: (51) 3227-2311
Site: www.margs.rs.gov.br
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