Em homenagem ao artista Danúbio Gonçalves (1925-2019), o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), instituição da Secretaria de Estado da Cultura do RS (Sedac), apresenta uma exposição que celebra a obra do desenhista, gravador e pintor gaúcho, também mestre no ensino de gerações, falecido em 21.04.2019, aos 94 anos.
Intitulada “Danúbio (1925-2019) – Uma homenagem a partir do acervo do MARGS”, a mostra será inaugurada na próxima quarta-feira (8/5), às 19h, trazendo a público uma seleção de itens dos acervos documental e artístico do museu.
Dentro da programação de homenagens, no dia 28 de maio, às 16h, o museu apresentará em seu auditório uma sessão pública do filme “Danúbio” (2012), seguida de debate, com a presença do diretor do documentário, Henrique de Freitas Lima, e do escritor Luiz Coronel. A exibição integra o evento “Conversas no Museu”, organizado mensalmente pela Associação de Amigos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (AAMARGS).
Nas palavras do diretor-curador do MARGS, Francisco Dalcol, a homenagem a Danúbio Gonçalves é um dever do MARGS frente ao seu legado artístico e histórico:
Danúbio faz parte de uma geração protagonista nos debates e posicionamentos frente à introdução e difusão das linguagens artísticas modernas na cultura visual do Estado ao longo do século XX. Além disso, foi mestre do ensino da gravura para gerações de artistas. Reconhecendo esse legado artístico e histórico, esta exposição é uma homenagem singela, que nasce como um gesto simbólico e solene por parte do MARGS diante de sua despedida recente, como uma resposta imediata do museu frente ao dever de assinalar e valorizar o significado que um artista como Danúbio representa para a história da arte do Rio Grande do Sul.
A exposição
“Danúbio (1925-2019) – Uma homenagem a partir do acervo do MARGS” apresenta na Sala Aldo Locatelli um conjunto de cerca de 25 obras do artista pertencentes ao acervo artístico do museu. A seleção enfatiza algumas das diversas pontuações, fases e etapas que marcam a extensa trajetória da produção de Danúbio, reunindo trabalhos desde os anos 1950, entre gravuras, pinturas e desenhos.
Um dos destaques são as afamadas gravuras da série “Xarqueadas”, nas quais o artista registrou a matança do gado e a lida artesanal na produção do charque. Marcadas pelo apuro técnico e formal no registro das condições sociais do trabalhador do campo, essas obras são apresentadas na exposição em suas versões desenvolvidas por Danúbio nas técnicas de xilogravura e serigrafia.
Realizada no âmbito da experiência dos Clube de Gravura de Porto Alegre e Bagé dos anos 1950, a série “Xarqueadas” é certamente um dos pontos mais altos e de maior reconhecimento da produção de Danúbio, por conta do exímio tratamento gráfico e documental e do expressivo registro que confere à rude condição dos trabalhadores do campo, algo bastante distante da imagem mítica do gaúcho heroico e a cavalo. Mesma importância se dá com o registro dos trabalhadores da mineração no Estado, vertente de sua produção que também é contemplada na exposição, com a apresentação de uma obra e um estudo – comenta Francisco Dalcol.
Além da reunião de obras do acervo artístico do MARGS, a exposição traz a público uma seleção de documentos que oferece ao visitante uma breve contextualização da vida e atuação do artista, a partir de fotografias, jornais, textos e outros materiais manuscritos e impressos.
Danúbio é um dos artistas que possui uma extensa catalogação de itens no acervo documental do museu. E uma das premissas da nossa gestão no MARGS é trazer a público essa valiosa coleção de documentos, como parte integrante dos projetos expositivos e curatoriais, de modo a ampliar e intensificar a experiência que as exposições proporcionam aos visitantes – explica Dalcol.
O filme
Com direção de Henrique de Freitas Lima (de “Lua de Outubro” – 1997, “Concerto Campestre” – 2004, “Contos Gauchescos” – 2012), o documentário “Danúbio” (2012) foi concebido como o primeiro episódio da “Série Grandes Mestres”.
As primeiras tomadas ocorreram em Torres, espécie de segundo lar de Danúbio, acompanhando sua relação com a cidade e os festivais de balonismo que geraram duas séries de pinturas. Foram seguidas por períodos alternados no atelier do artista no bairro de Petrópolis, em Porto Alegre, e Bagé.
A grande atração do filme, entretanto, é a realização de um sonho antigo: o encontro com uma das maiores influências de sua carreira, o México e seus artistas. Integrante da geração que chegou à idade adulta na quarta década do século XX, Danúbio, como seus contemporâneos Carlos Scliar, Vasco Prado, Glênio Bianchetti e Glauco Rodrigues, foi influenciado pelos artistas engajados mexicanos, gente da estirpe de Diego Rivera, José Clemente Orozco e David Siqueiros. Mais do que estes, conhecidos por suas pinturas e murais, quem realmente tocou os gaúchos foi o grupo reunido no Taller de Arte Grafica Popular sob a liderança do gravador Leopoldo Mendez. A arte engajada de Mendez e seu grupo, com quem Carlos Scliar conviveu na Europa durante o Congresso dos Artistas e Intelectuais pela Paz de Varsóvia, em 1948, forneceu a matéria prima para iniciativas coletivas como o legendário Clube de Bagé . No momento em que o grupo buscava uma arte figurativa que pudesse se contrapor ao modelo que se impunha a partir do abstrativismo e das Bienais de São Paulo, o exemplo dos mexicanos serviu como uma luva.
Para captar esse encontro tão especial, a equipe partiu para o México onde, em duas semanas, Danúbio pode visitar múlti犀利士
plos espaços e conviver com seus pares mexicanos. Visitando as casas, estúdios e museus de Frida Kahlo e Diego Rivera, circulando entre as pirâmides de Teotihuacán, feiras populares como o Jardin del Arte, modernos centros culturais como a Estação Indianilla e o Museo de la Estampa, o artista acabou por colocar a capital mexicana entre as suas preferidas, ao lado de Paris e Barcelona.
O ápice da viagem foi a convivência e troca de experiências com o gravador e mestre impressor Mario Reyes, 86 anos, em cujo atelier circulam os mais importantes artistas mexicanos nos últimos 45 anos. Espécie de santuário reconhecido pela qualidade de suas cópias impressas, tem entre suas relíquias uma prensa que pertenceu a Leopoldo Mendez e é conduzido pela própria esposa de Reyes e seus filhos. Num dia luminoso, Danúbio e Mário Reyes compartilharam técnicas, fizeram gravuras juntos e falaram de suas trajetórias e pontos comuns. Entre eles, a figura feminina, a que ambos dedicaram grande parte do seu tempo.
Participam do filme grandes nomes das artes do Sul, como Alfredo Nicolaiewsky, Anico Herskowitz, Miriam Tolpolar, Maria Tomaselli, Helena Kanaan, Wilson Cavalcanti e Paulo Chimendes.
O projeto recebeu o apoio do FUMPROARTE, da Prefeitura de Porto Alegre, e teve a estreia patrocinada por meio da Lei Rouanet. O segundo episódio da “Série Grandes Mestres” é dedicado a Zoravia Bettiol, atualmente em exibição no circuito comercial. Em junho, o filme será exibido no MARGS.
Sobre o artsita
Danúbio Gonçalves nasceu em Bagé/RS (1925). Atuou como gravador, desenhista, caricaturista, pintor e professor.
Nos anos 1950, fez parte do “Grupo de Bagé”, ao lado de Glauco Rodrigues (Bagé/RS, 1929 – Rio de Janeiro/RJ, 2004), Glênio Bianchetti (Bagé/RS, 1928 – Brasília/DF, 2014) e Carlos Scliar (Santa Maria, 1920 – Rio de Janeiro/RJ, 2001).
Foi professor do Instituto de Artes da UFRGS entre os anos 1969 e 1971 e diretor do Ateliê Livre da Prefeitura de Porto Alegre aonde ministrou o curso de litogravura.
Publicou os livros “Do Conteúdo à Pós-Vanguarda”, editado pela Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, em 1995, e a obra “Processos Básicos da Pintura”, pela editora AGE, em 1996.
Faleceu dia 21 de abril de 2019 , em Porto Alegre/RS.
SERVIÇO
Exposição “Danúbio Gonçalves (1925 -2019) – Uma homenagem a partir do acervo do MARGS”
Abertura: 8 de maio de 2019, às 19h
Visitação: 9 de maio a 21 de julho (prorrogada para 28.07)
Curadoria: MARGS
Local: Galeria Aldo Locatelli
Entrada Franca
Conversas no Museu: Exibição do documentário “Danúbio” (2012), de Henrique de Freitas Lima
Debate, com a presença do diretor do documentário, Henrique de Freitas Lima, e do escritor Luiz Coronel.
Data: 28 de maio de 2019
Horário: 16h
Local: Auditório do MARGS
Entrada franca
* Lugares ocupados por ordem de chegada, com capacidade para 70 pessoas.