Iberê e o MARGS — Trajetórias e encontros

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul — MARGS, instituição da Secretaria de Estado da Cultura — Sedac, e a Fundação Iberê Camargo inauguram no dia 27.07.2024, sábado, às 14h, a exposição “Iberê e o MARGS – Trajetórias e encontros”

A abertura será exatamente no dia em que o Museu completa 70 anos. Com o MARGS ainda sem poder reabrir ao público por conta dos trabalhos internos de recuperação dos danos causados pela enchente e restabelecimento da operação museológica, a data de aniversário dos 70 anos será celebrada fora de casa, com uma exposição que retoma a programação alusiva.

Com curadoria de Francisco Dalcol, diretor-curador do MARGS, e Gustavo Possamai, responsável pelo Acervo da Fundação Iberê, e resultando de uma pesquisa inédita e em colaboração sobre a história de relação entre o artista e o Museu, o projeto estava em preparação há mais de um ano, como parte da programação comemorativa dos 70 anos apresentada por outras instituições.  

“Iberê e o MARGS: trajetórias e encontros” aborda a longeva relação entre Iberê Camargo (1914- 1994) e o Museu, assinalando também a parceria entre ambas as instituições. Reunindo mais de 80 obras e documentos pertencentes às duas instituições, a exposição revisita exposições, publicações, eventos e ações que o MARGS realizou com e sobre Iberê

Ao apresentar a extensa presença do artista nos acervos artísticos e documentais, o projeto também assinala o quão rica e profunda é a sua história com o Museu. Uma história que até aqui ainda não havia sido plena e devidamente contada, como demonstra a extensa cronologia desenvolvida em colaboração entre as equipes do MARGS e da Fundação Iberê para a exposição e o seu catálogo.  

Iberê é o artista que mais expôs no MARGS, com sete exposições individuais e mais de cem coletivas. Participa já da mostra de estreia do Museu, em 1955, tendo na ocasião obras suas adquiridas para o acervo. Nas décadas seguintes, também ganharia livro monográfico, ministraria cursos, participaria de ações e iniciativas do Museu e protagonizaria debates públicos. Teria ainda o ingresso de outras obras suas no acervo (através de compra, transferência e doação), além de um espaço de guarda de parte de seu arquivo pessoal, o qual destinou à instituição em 1984. Foi também no MARGS que ocorreria a sua despedida, com o velório público que teve lugar nas Pinacotecas, o mais nobre e solene espaço do Museu. 

Em 2004, parte da documentação doada por ele foi transferida para a Fundação Iberê, em um contexto já de colaboração institucional, celebrada à época, no MARGS, com a exposição “Iberê Camargo – Uma perspectiva documental”.   Ainda assim, o Acervo Documental do Museu possui hoje mais de 10 mil páginas relacionadas a Iberê, incluindo o mais expressivo e volumoso conjunto da coleção denominada “Dossiês de artistas”. Recentemente, foi concluído o extenso processo de digitalização que contemplou esse amplo conjunto documental sobre o artista, disponibilizando-o publicamente e em meio on-line no repositório Tainacan do MARGS

Vem desse longevo e profundo histórico de relação o título da exposição, inspirado em um dos mais importantes acontecimentos no MARGS relacionados ao artista: a mostra Iberê Camargo: trajetória e encontros. Realizada em cooperação com a Funarte em 1985, cumpriria itinerância pelo museu de Arte de São Paulo – MASP, museu de Arte moderna do Rio de Janeiro e Galeria do teatro Nacional de Brasília, celebrando Iberê como o maior pintor vivo do Brasil.

 

A EXPOSIÇÃO E A CATÁSTROFE AMBIENTAL

O trágico contexto das enchentes no Rio Grande do Sul, que atingiram o MARGS, atravessou o período de organização da exposição.  Além de trazer novos sentidos a ela, o contexto atual também encontra ressonâncias no posicionamento público de Iberê, um crítico ferrenho dos governantes pelo descuido irresponsável com a natureza.

Comungamos do entendimento de que seria impossível a exposição se dar em uma espécie de vácuo factual e histórico, compreendendo que não poderia estar alheia à situação e ao momento em que nos encontramos. Assim, a exposição também permite olharmos’ para tudo isso através das lentes’ de Iberê, considerando que notoriamente sempre criticou duramente a falta de cuidado com a natureza, frente aos processos de dominação e destruição do meio ambiente e mesmo das cidades perpetrados pelo homem. Esperamos que os apelos que Iberê fazia à necessidade de consciência ecológica, muito antes dessa tragédia toda acontecer no RS, possam agora se renovar encontrando ainda maior ressonância hoje, face aos acontecimentos. Enquanto ainda haja tempo de agirmos para projetar alguma esperança de um futuro para esta e as próximas gerações que assuma maior responsabilidade e compromisso com o cuidado pela preservação da natureza e pelo meio ambiente”, diz Francisco Dalcol. 

Agora, a Fundação Iberê abriga simbolicamente, como um lar temporário, parte do acervo afetado do Museu.

 

OS ACERVOS 

O acervo da Fundação Iberê é composto, em sua grande maioria, pelo fundo Maria Coussirat Camargo. São mais de 20 mil itens doados por ela, além de mais de 10 mil incorporados após seu falecimento, ainda não processados. Iberê recebia correspondências quase diariamente e mantinha cópias das que enviava. 

O casal fotografou e catalogou a maioria das obras produzidas por ele, além de reunir uma extensa quantidade de materiais, como entrevistas, críticas e notas, praticamente tudo o que se referia a Iberê na imprensa. Os amigos tiveram um papel fundamental nessa compilação, contribuindo com materiais publicados no exterior e de norte a sul do Brasil. Tome-se a biblioteca de Iberê: ela foi verdadeiramente fundida com a biblioteca de Dona Maria, a ponto de ser difícil determinar quem adquiriu ou leu determinado livro, inclusive os mais técnicos, pois ambos os consultavam. Os documentos cobrem toda a trajetória artística de Iberê, incluindo aspectos de sua vida doméstica, desde agendas para a manutenção da casa até carteirinhas de vacinação dos gatos acompanhadas de receitas para dietas felinas”, recorda Possamai. 

Já o Acervo Artístico do MARGS possui 75 obras de Iberê Camargo, adquiridas a partir de 1955, no ano seguinte à sua criação, por meio de compra, doação e transferência entre instituições do Estado. O conjunto contempla seis pinturas a óleo, além de obras em papel (gravura e desenho). E o Acervo Documental do Museu conta com uma extensa documentação sobre Iberê, reunindo jornais, revistas, publicações, textos, documentos, fotografias, correspondências, convites e catálogos de exposições. Esse conjunto inclui os arquivos pessoais que o próprio Iberê destinou ao MARGS, em 1984, para fins de guarda, preservação e disponibilização para pesquisa.

 

O ARTISTA

Iberê Camargo é um dos grandes nomes da arte brasileira do século XX. Autor de uma obra extensa, que inclui pinturas, desenhos, guaches e gravuras, Iberê nasceu em Restinga Seca, cidade do interior do Rio Grande do Sul, em novembro de 1914. Em 1927, iniciou seu aprendizado em pintura na Escola de Artes e Ofícios de Santa Maria. Em 1936, mudou-se para Porto Alegre, onde conheceu Maria Coussirat Camargo – então estudante do Instituto de Belas Artes – com quem se casou em 1939. Em 1942, ano de sua primeira exposição, o artista e sua esposa mudaram-se para o Rio de Janeiro, onde viveram por 40 anos. 

Admirador e amigo de artistas brasileiros como Goeldi e Guignard, em 1948 viajou para a Europa (através de um prêmio de viagem ao estrangeiro, conquistado com sua obra Lapa, de 1947) em busca de aprimoramento técnico. Durante sua estada, visitou museus, realizou cópias dos grandes mestres da pintura e estudou gravura e pintura com Giorgio De Chirico, Carlo Alberto Petrucci, Leoni Augusto Rosa, Antonio Achille e André Lhote.

De volta ao Brasil, em 1950, Iberê conquistou inúmeros prêmios e participou de diversas exposições internacionais, como Bienal de São Paulo, Bienal de Arte Hispano-Americana, em Madri, Bienal de Veneza, Bienal de Gravuras, em Tóquio, entre outras. Foi no final dos anos 1950 que, devido a uma hérnia de disco que o obrigou a pintar no interior de seu ateliê, o artista desenvolveu um dos temas mais recorrentes em sua pintura: os Carretéis. São estes brinquedos de sua infância que o levaram, mais tarde, à abstração, e que estiveram presentes em sua obra até a fase final.

Ao longo de sua vida, Iberê Camargo exerceu forte liderança no meio artístico e intelectual. Entre várias outras atividades, destaca-se sua participação na organização do Salão Preto e Branco, em 1954, e, no ano seguinte, do Salão Miniatura, ambos realizados em protesto às altas taxas de importação de material artístico.

Na década de 1980, retomou a figuração. Mas, ao longo de toda a sua produção, nunca se filiou a correntes ou movimentos. Em 1982, retornou a Porto Alegre, onde produziu duas de suas séries mais conhecidas: os Ciclistas e as Idiotas. Iberê Camargo faleceu em agosto de 1994, aos 79 anos.

 

OS CURADORES

Francisco Dalcol é crítico e historiador da arte, curador, pesquisador, professor, jornalista e editor. Autor de produção intelectual em artes visuais, com atuação nas áreas museológica, acadêmica e editorial. mestre e Doutor em Artes visuais – História, teoria e Crítica, com estágio de doutoramento na universidade Nova de Lisboa. Professor-colaborador do curso de pós-graduação Práticas Curatoriais (uFRGS). membro da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP). Desde 2019, é diretor-curador do museu de Arte do Rio Grande do Sul (mARGS).

Gustavo Possamai é responsável pelo Acervo da Fundação Iberê, pela parceria com o Google Arts & Culture e pelo aplicativo Iberê para Crianças (ambos Prêmio Açorianos). Co-curador das exposições “José Gamarra – Antologia” (Fundação Iberê, 2023); “mAGLIANI” (Fundação Iberê, 2022); “Iberê Camargo – O Fio de Ariadne” (Fundação Iberê, 2020; Instituto tomie Ohtake, 2021); “Iberê Camargo: visões da Redenção” (Fundação Iberê, 2019); “Iberê Camargo: NO DRAmA” (Fundação Iberê, 2017; Centro Cultural marcantonio vilaça, 2019); “Iberê Camargo: Sombras no Sol” (Fundação Iberê, 2017), entre outras.

 

SERVIÇO

“Iberê e o MARGS – Trajetórias e encontros”

Abertura de exposição 

Quando: sábado, 27.07.2023, às 14h

Onde: Fundação Iberê. Av. Padre Cacique, 2000 – Cristal, Porto Alegre – RS, 90810-240

Visitação: até 24.11.2024, de quarta a domingo, das 14h às 18h30 (último acesso às 18h30). Nas quintas, a entrada é gratuita e, de sexta a domingo, os ingressos custam entre R$10 e R$30.

As visitas mediadas às exposições em cartaz devem ser agendadas pelo e-mail agendamento@iberecamargo.org.br ou pelo telefone (51) 3247 8013. 

 

MARGS | MUSEU DE ARTE DO RIO GRANDE DO SUL 

Instituição museológica pública, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura do RS, voltada à história da arte e à memória artística, assim como às manifestações, linguagens, investigações, pesquisas e produções em artes visuais.

O MARGS realiza seus projetos por meio de patrocínios como pela Lei de Incentivo à Cultura Federal. O projeto do Plano Anual 2023, gerido pela Associação de Amigos do Museu (AAMARGS), está identificado pelo PRONAC 223047 sob o nome “Exposições de Artes Visuais no MARGS”.

Patrocínio direto:

Banrisul

Apoio:

Café do MARGS

Banca do Livro

Bistrô do MARGS

Arteplantas

iSend

Realização:

AAMARGS – Associação dos Amigos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul 

MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul 

SEDAC – Secretaria de Estado da Cultura do RS / Governo do Estado do Rio Grande do Sul

 


MARGS

Praça da Alfândega, s/n°

Centro Histórico, Porto Alegre/RS, Brasil, CEP 90010-150

Visitação de terça a domingo, 10h às 19h (último acesso 18h), entrada gratuita

Telefone: +55 (51) 3286-2597

Site: www.margs.rs.gov.br

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Instagram: www.instagram.com/museumargs

Apoio e Realização