Liciê Hunsche – Fios de memória

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS, instituição da Secretaria de Estado da Cultura do RS – Sedac, apresenta a exposição “Liciê Hunsche – Fios de memória”.

Aberta para visitação a partir do sábado (29.04.2023), em evento de inauguração às 10h30 aberto ao público, a mostra segue em exibição até 30.07.2023, ocupando duas salas no 2ª andar do Museu. Visitação gratuita, de terça-feira a domingo, das 10h às 19h (último acesso 18h).

Artista nascida em Porto Alegre, Liciê Hunsche (1924 – 2017) teve destacada atuação no campo da tapeçaria e da arte têxtil, participando de diversas exposições relacionadas no Brasil e também no exterior. Entre os anos 1970 e 80, atuou ativamente em um momento de renovação dessa linguagem, ao lado de artistas como Jacques Douchez, Norberto Nicola, Zoravia Bettiol, Yeddo Titze e Berenice Gorini. 

No cenário gaúcho da arte têxtil, Liciê foi especialmente importante não só por sua produção como por sua atuação. Ainda na década de 1970, a artista se associou ao primeiro Centro Brasileiro da Tapeçaria Contemporânea, criado em 1975. E, em 1980, passaria a ser diretora do Centro Gaúcho de Tapeçaria Contemporânea (CGTC). Além disso, seu ateliê – desenvolvido com espaços para tingimentos, cardagem e tecelagem – tornou-se espaço de encontro e referência para toda uma geração de artistas ligada aos têxteis. 

A exposição “Liciê Hunsche – Fios de Memória” traz a público um resgate da trajetória da artista, apresentando um conjunto de obras realizadas entre os anos 1970 e 1990, mediante uma reunião de peças da coleção da família e do Acervo Artístico do MARGS, juntamente à seleção de uma ampla documentação sobre a sua vida e atuação. 

Trata-se da primeira mostra retrospectiva sobre essa importante artista da tapeçaria gaúcha. A exposição também assinala o histórico papel desempenhado pelo MARGS como difusor e legitimador da arte têxtil nas décadas de 1970 e 80, quando promoveu diversas exposições e adquiriu obras.

A exposição é uma iniciativa da família da artista – que preserva a memória de Liciê mantendo ativo o seu ateliê e a guarda de suas obras e documentação –, com produção e curadoria de Carolina Bouvie Grippa, pesquisadora que tem se dedicado a investigar e resgatar o importante papel e lugar da tapeçaria e da arte têxtil na História da Arte do Rio Grande do Sul.

Com apoio e colaboração do MARGS para sua realização e apresentação, “Liciê Hunsche – Fios de memória” integra 2 programas expositivos em operação no Museu que são aqui interligados: “Histórias ausentes”, voltado a resgates e revisões históricas, e “História do MARGS como história das exposições”, que aborda a história institucional do Museu.

 

APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL

Por Francisco Dalcol
Diretor-curador do MARGS

Ao apresentar a exposição “Liciê Hunsche – Fios de memória”, o MARGS revisita a sua relação histórica com a artista e, ao mesmo tempo, resgata, atualiza e também celebra a história institucional do envolvimento do Museu com a produção artística em tapeçaria, notadamente a do Rio Grande do Sul.

O MARGS possui uma expressiva coleção de tapeçarias, que tem sido ampliada em anos recentes e vindo a público em exposições individuais, como “Yeddo Titze – Meu jardim imaginário” (2021), e coletivas como o programa “Acervo em movimento”, nossa exposição de longa duração com rotatividade de obras.

A primeira tapeçaria a ingressar, de Genaro de Carvalho, foi adquirida ainda em 1959, nos anos iniciais de constituição do acervo do Museu. Já nas décadas de 1970 e 80, período de destaque da produção em arte têxtil no Rio Grande do Sul e no país, o MARGS foi uma instituição fundamental para a sua difusão e legitimação.

Ao mesmo tempo que apresentou exposições, adquiriu boa parte das obras que hoje integram sua coleção, de nomes como Jacques Douchez, Norberto Nicola, Zoravia Bettiol, Yeddo Titze e Berenice Gorini. Com a expressiva presença da tapeçaria, o Museu manteria uma sala para exibição dessas obras entre 1979 e 1985.

Liciê Hunsche (1924 – 2017), importante e destacada artista da tapeçaria gaúcha, integra essa história pelas mostras de que participou, em especial a que apresentou no MARGS junto com Jacques Douchez, em 1981.

E também pelo seu protagonismo à frente do Centro Gaúcho de Tapeçaria Contemporânea (CGTC) – Liciê foi sua primeira diretora, em 1980 –, do qual o Museu apresentou exposições. Foi nesse mesmo período que a artista destinou 2 obras ao acervo do MARGS, ambas em exibição agora nesta exposição, juntamente à coleção sob guarda da família.

Por todos esses significados, a mostra “Liciê Hunsche – Fios de memória” é apresentada pelo MARGS como parte de dois programas expositivos que são aqui interligados: “Histórias ausentes”, voltado a resgates e revisões históricas, e “História do MARGS como história das exposições”, que aborda a história institucional do Museu.

Agradecemos à família de Liciê Hunsche, pela iniciativa em prol de sua memória, à pesquisadora Carolina Grippa, pela organização da exposição, e à equipe do Museu, pela colaboração e suporte.

 

TEXTO CURATORIAL 

Por Carolina Bouvie Grippa
Curadora da exposição. Mestre em Artes Visuais – História, Teoria e Crítica

A aranha é reconhecida como a inventora do arquivo, pois antes das teias serem armadilhas, elas podem ser entendidas como “a memória material e externalizada de comportamentos”¹. Se seguirmos o fio produzido pelo animal, teremos ali o registro físico de seu comportamento e da sua história. Fios que se transformam em arquivos e memórias.  

A tapeçaria surgiu para Liciê Hunsche (1924 – 2017) através de um curso de Zoravia Bettiol, em 1971. A partir desses conhecimentos, a artista dedicou-se à tapeçaria feita no tear, produzindo intensamente e envolvendo-se com as diversas etapas do beneficiamento da lã.

Sua produção tem como característica o emprego de poucas cores, o uso da lã e do sisal, principalmente, e há uma preferência pela geometrização das formas. Dedicando-se à técnica, a complexidade de suas criações foi aumentando, trazendo volume e texturas diferentes às suas tapeçarias.

O interesse de Hunsche pela tapeçaria não é um caso isolado, pois sua produção se entrelaça com um forte movimento de renovação desse suporte nas artes, que teve seu ápice na década de 1970. Por essa época, diversos artistas, como Genaro de Carvalho, Jacques Douchez, Norberto Nicola e Marlene Trindade, tinham na tapeçaria o seu suporte artístico e participavam intensamente de exposições na área sobre o tema.

Infelizmente, essa produção têxtil ficou esquecida pela história da arte tradicional, muito devido ao preconceito ligado à tapeçaria, que tem um apelo forte ao artesanato – o que não é bem visto nas artes – e também pela ligação ao feminino de maneira pejorativa. Desde 2017, estudo sobre a tapeçaria brasileira, especialmente do Rio Grande do Sul, e tenho feito um esforço em trazer luz a obras e artistas que se dedicaram a essa técnica. Liciê Hunsche é uma delas.

Essa é a primeira exposição com caráter retrospectivo sobre a artista e que ocorre devido aos esforços de seus familiares para apresentar ao público a sua produção e história. Em uma das salas, é dado destaque à produção têxtil, com obras das décadas de 1970 a 1990, percorrendo todo o período de sua carreira. E, na segunda sala, o espectador tem contato com diversos projetos, documentos e objetos do cotidiano da artista e que demonstram seu bom gosto e as inspirações no desenvolvimento do seu trabalho.

Trazer um pouco do ateliê, do processo de criação e de suas influências para o museu é, de certa maneira, construir a teia da memória de Liciê Hunsche, nos dando o caminho para entender suas motivações, seu percurso e sua história. 

1. “Autobiografia de um polvo e outras narrativas de antecipação”, de Vinciane Despret

 

TEXTO BIOGRÁFICO

Trajetória

A artista Liciê Hunsche (Porto Alegre, 1924 – 2017) iniciou importante trajetória artística no têxtil, após realizar um curso de tapeçaria com Zoravia Bettiol, em 1971. A partir de então, partiicpa de diversos eventos da área, no Brasil e no exterior.

Após essa experiência, a artista iniciou uma importante trajetória artística no têxtil, participando de diversos eventos da área, no Brasil e no exterior:

  • 1ª Mostra Brasileira de Tapeçaria, no Museu de Arte Brasileira (MAB-FAAP), em São Paulo (1974)
  • As três Trienais de Tapeçaria no MAM de São Paulo (1976, 1979 e 1981), sendo que na 2ª edição ganhou o 1º prêmio
  • 3º Salão de Artes Visuais de Porto Alegre (1975), no qual ganhou o Prêmio Aquisição
  • 1º Encuentro Argentino/Uruguayo/Brasileño de Tapicería, em Buenos Aires, Argentina (1975)
  • Encuentro Argentino – Brasileño – Uruguaio de Tapeçaria na Fundación Lorenzutti, Buenos Aires, Argentina (1977)
  • Exposição individual na Galeria Cambona, em Porto Alegre (1980)
  • Exposição no MARGS junto ao artista Jacques Douchez (1981)
  • Tapisserien aus Brasilien – Künstlergruppe no Textilmuseum Max Berk, em Heidelberg, Alemanha (1984)
  • Fiber Arts – Partnership International, no MARGS e na Downtown Gallery em Indianapolis, EUA (1988)
  • 7ª Trienal Internacional de Tapeçaria, em Lodz, na Polônia (1992)

Liciê Hunsche também foi associada ao Centro Brasileiro da Tapeçaria Contemporânea, primeira associação de tapeçaria do país, criada em 1975, além de primeira diretora do Centro Gaúcho da Tapeçaria Contemporânea, criado em 1980, em Porto Alegre. 

Obra

Liciê Hunsche priorizava a qualidade de seus materiais e o acompanhamento do processo de beneficiamento da lã, uma das matérias-primas de suas obras. 

Assim, envolveu-se com a criação de ovelhas karakul, naturais do Oriente Médio, devido a uma característica: a sua lã é naturalmente colorida, havendo tons de preto, marrons, azuis escuros e até rosados. Com esse material, Liciê fez tapetes, mantas e peças de vestuário e chegou a ganhar prêmios junto a Leila Taborda, sua tecelã, na Expointer.  

Realizou encomendas para particulares, Ministério da Fazenda em Porto Alegre e bancos.

Possui obras nos acervos do MARGS e da Pinacoteca Aldo Locatelli, além da coleção da família. 

Ateliê

Com o intuito de ter um local adequado para a produção de sua obra, Liciê contratou o arquiteto Zanine Caldas para construir seu ateliê, na Zona Sul de Porto Alegre, com espaços distintos para tingimentos, cardagem e tecelagem.

Ali, Liciê criou a maioria de suas obras e também abriu o espaço para receber ações sociais como “Mãos Gaúcha e Fios do Sul”, reuniões do Centro Gaúcho da Tapeçaria Contemporânea e exposições. O ateliê tornou-se uma referência para toda uma geração de artistas ligada aos têxteis.

Hoje, o espaço é mantido pela família, que guarda o acervo artístico e documental da artista. E os teares seguem ativos por Leila Taborda, tecelã que trabalhou anos com Liciê e que segue tecendo, mantendo o propósito do ateliê vivo.

 

A CURADORA

Carolina Bouvie Grippa é mestra em História, Teoria e Crítica de Arte (UFRGS), bacharela em História da Arte (UFRGS) e em Moda (Universidade Feevale). Desde 2017, desenvolve pesquisa sobre tapeçaria brasileira e riograndense. É criadora do perfil no Instagram “Tapeçaria na Arte”, no qual divulga artistas, obras têxteis e publicações sobre o tema. Como curadora, realizou as curadorias das exposições “Trama: Arte têxtil do Rio Grande do Sul” na Fundação Iberê (2022), “Yeddo Titze: Meu jardim imaginário” em conjunto com Paulo Gomes no MARGS (2021), “A memória que se tece: o Centro Gaúcho da Tapeçaria Contemporânea” na Pinacoteca Barão de São Ângelo (2019). Também trabalha com produção cultural, realizando o trabalho de coordenadora de produção na 13° Bienal do Mercosul, gestora do projeto “Decifrando rendas: técnicas, processos e história”. Contemplado pelo Edital Sedac n° 09/2020 e, atualmente, é produtora executiva no projeto “Subsolo: uma residência artística no Museu do Carvão” contemplado pelo Edital Sedac n° 13/2021.

 

SERVIÇO

Exposição “Liciê Hunsche – Fios de memória”

Quando:  abertura dia 29.04.2023, às 10h30, em evento aberto ao público. Em exibição até 30.07.2023 

Onde: 2º andar expositivo do MARGS (Galeria Iberê Camargo e sala Oscar Boeira). Praça da Alfândega, s/n°, Centro Histórico de Porto Alegre, RS – Brasil – 90010-150

Visitação: terça-feira a domingo, das 10h às 19h (último acesso 18h), com entrada gratuita

 

MARGS | MUSEU DE ARTE DO RIO GRANDE DO SUL 

Instituição museológica pública, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura do RS, voltada à história da arte e à memória artística, assim como às manifestações, linguagens, investigações, pesquisas e produções em artes visuais.

O MARGS realiza seus projetos por meio de patrocínios como pela Lei de Incentivo à Cultura Federal. O projeto do Plano Anual 2023, gerido pela Associação de Amigos do Museu (AAMARGS), está identificado pelo PRONAC 223047 sob o nome “Exposições de Artes Visuais no MARGS”.

Patrocínio:

Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDE

CMPC Celulose Riograndense Ltda

Vero Banrisul

Gerdau

Apoio:

Café do MARGS

Banca do Livro

Bistrô do MARGS

Arteplantas

iSend

Realização:

AAMARGS – Associação dos Amigos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul 

MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul 

SEDAC – Secretaria de Estado da Cultura do RS / Governo do Estado do Rio Grande do Sul

Secretaria Especial da Cultura / Ministério do Turismo / Governo Federal

MARGS

Praça da Alfândega, s/n°

Centro Histórico, Porto Alegre, RS, 90010-150

Visitação de terça a domingo, 10h às 19h, entrada gratuita

Telefone: (51) 3227-2311

Site: www.margs.rs.gov.br

Facebook: https://www.facebook.com/museumargs

Instagram: www.instagram.com/museumargs

Apoio e Realização