O Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), instituição da Secretaria de Estado da Cultura do RS (Sedac), apresenta a exposição “Adriana Giora – No limiar do jardim”. Com curadoria de André Venzon, a mostra tem lugar na sala Oscar Boeira do museu, com abertura no dia 15.10 (terça), das 18h às 21h.
Trata-se de uma instalação de grandes proporções, com peças suspensas em cerâmica branca, que ocupará a totalidade da sala expositiva e que representa um jardim imaginário, na qual será possível reconhecer a presença de métodos artesanais e de recursos tecnológicos em uma produção que mescla o primitivo e o contemporâneo.
No dia 16.11, às 17h, integrando a programação da Feira do Livro, ocorre no auditório do MARGS uma conversa com a artista Adriana Giora e o curador André Venzon sobre a exposição. Na sequência, às 18h30, será realizado o lançamento do catálogo da exposição, em sessão de autógrafos com a artista.
A exposição segue em exibição até dia 08.12.2019. O MARGS funciona de terças a domingos, das 10h às 19h, sempre com entrada gratuita. Visitas mediadas podem ser agendadas pelo e-mail educativo@margs.rs.gov.br.
TEXTO CURATORIAL
Tudo isso está bem dito…
mas devemos cultivar nosso jardim.
Cândido, Voltaire, 1759.
A cerâmica, em geral, tem sido pouco reconhecida no circuito de arte do Brasil, e lida com segregação e diminuição perante outras formas de investigação artística. Apesar disso, é inegável a sua importância crescente enquanto comunidade específica e como afirmação de individualidades geradoras de processos significativamente enriquecedores. O Museu de Arte do Rio Grande do Sul já ocupou importante papel como agente de legitimação dessa linguagem no cenário artístico regional ao participar da organização do Salão de Cerâmica, promovido pela Associação de Ceramistas do Rio Grande do Sul – ACERGS.
A arte cerâmica exige, como em outros campos da experiência artística, o envolvimento contínuo e integral, tanto mental quanto físico, para sua concepção. Há 35 anos, a artista Adriana Giora, motivada por esse campo e atraída por suas especificidades, transformou a cerâmica em sua própria experiência vital. Tendo como mestre a artista Tania Resmini, cuja obra é reconhecida pela aplicação de procedimentos contemporâneos em paralelo aos valores tradicionais presentes na cerâmica, Giora estudou profundamente a prática, depois de um longo período dedicado à área de gestão profissional.
No caso da artista, que é igualmente mulher e mãe, a cerâmica vem recobrar também o mito da origem, da gênese e da fecundação. O movimento feminino de gerir, como no ato divino, compactua com a gestualidade manual que do barro fizeram os primeiros seres, habitantes de nosso imaginário e sentido. A cerâmica mostra-se como um dos elementos originários de criação do ser humano, a modelagem primordial da terra e a dominação da forma pelo sujeito. Em diferentes tempos e lugares, essa situação tem sido um dos fatores capazes de explicar, por exemplo, por que no século XXI ainda somos movidos pelo desejo do fazer à mão.
O gesto de moldar a terra, essa ordem indomável e primitiva, fascina e assusta. Nesta exposição, que ressalta a harmonia entre a delicadeza dos cipós, constituídos por milhares de pequenas peças, e a natureza contrastante de severidade absoluta dos cactos, Adriana consentiu ao barro suas impressões digitais, escolhendo a aparente fragilidade da cerâmica para transmitir uma personalidade corajosa, permitindo ao seu trabalho a conquista da rebeldia na forma e da grandeza nos volumes.
O barro se mantém presente ao longo de toda a nossa história enquanto humanidade. Se é que não tenhamos dele realmente sido feitos, foram de adobe as primeiras casas erigidas, como também eram de barro as ânforas nas quais guardavam-se água e grãos. Submetida ao fogo, a cerâmica nos deu abrigo, retirando-nos de nossa condição de nomadismo. Os primeiros instrumentos de alfabetização surgiram com a escrita cuneiforme, em placas de argila. Há, em toda a genealogia dessa matéria, a participação em nossas vidas de maneira utilitária, embora tenhamos aprimorado nossos conhecimentos em sua constituição artística e, com isto, somos capazes de planejar e construir novas significações para o seu uso. Trata-se de um modo direto de ampliar um diálogo interior, permitindo que diversas expressões se manifestem e nos mostrem novos e melhores caminhos, equilibrados e em consonância com os objetivos mais profundos de cada um.
A interatividade entre a técnica e a natureza presente em mais recente mostra individual, “O Jardim Secreto”, é a marca de um trabalho consciente de seu tempo e lugar que resulta no reconhecimento desta exposição atual. Novas experiências conduziram a artista a uma maior conciliação entre métodos artesanais e a utilização de recursos tecnológicos. Sua pesquisa não possui caráter acadêmico, mas sua condição investigativa acaba por ser em todos os aspectos: no estudo das formas, dos suportes e dos materiais; na capacidade de refletir sobre seus próprios processos e no esforço para estabelecer relações com o universo da arte para além de uma experiência pessoal.
A exposição “No limiar do jardim” não pretende mostrar um percurso artístico ou uma trajetória de vida, mas a fronteira existente entre uma experiência vital, de uma vivência não acadêmica, e uma concepção artística que se afirma na consolidação de seu trabalho. Assim como é necessário retornar às origens para entender o processo, muitas vezes também é preciso desconstruir para entender o mecanismo da construção, a consciência do memento mori para a compreensão do sentido da vida. Como toda criação enseja uma mudança, uma identidade na qual tudo se repete e nada mais é o mesmo, com as mesmas características e significados, desta forma também é o jardim, a ideia de retorno ao Éden, o lugar que nos originou e nos aguarda.
Adriana habita este e outros jardins em seu pensamento. É nesse lugar semiconsciente da inspiração que sente verdadeiramente. Em suas instalações cerâmicas, a vida é transformada em jardim, partindo da dualidade relacional entre o interior e o exterior, objetos e pessoas. Caminhar por meio de cipós e cactos pode deslocar o nosso olhar das paredes que ladeiam as demais galerias repletas de quadros, permitindo-nos explorar um pouco mais outros sentimentos em relação ao jardim, este espaço simbólico na história da arte e em nossas vidas, um lugar onde passamos tempo com quem amamos.
Essa imagem do jardim parece algo antagônico se comparada ao mundo de miséria e violência que vivenciamos diariamente. Ao mesmo tempo em que cultivamos nossos jardins, somos rodeados por um vazio muito grande. Aqui, no entanto, o público é convidado a habitar momentaneamente o jardim da artista. Aromas, formas, luzes e sons tentam materializar a ideia de um jardim, como fonte de inspiração, confiança, amor e afeto físico. A lembrança dos jardins que já conhecemos é ativada, e a experiência é mais importante do que a obra em si. A experiência com o lugar é a obra de fato.
André Venzon
Artista visual, curador e gestor cultural
Mestre em Poéticas Visuais pelo PPGAV-IA/UFRGS
SOBRE A ARTISTA
É natural da cidade de Salto no Uruguai (1957), vive e trabalha em Porto Alegre.
Adriana Giora foi vice-presidente da Associação de Artes Plásticas do Rio Grande do Sul (2016-2018), artista visual e ceramista estudou escultura e cerâmica com Adma Corá, Tânia Resmini, Claudia Carvalho, Jane da Cunha e Silva e Ítalo Giora. Também estudou história da arte com Edgardo Giora e Maria Helena Bernardes.
Exposições Individuais:
2017 O Jardim Secreto, Fundarte Montenegro, RS; 2016 O Jardim Secreto, Espaço Cultural IAB, Porto Alegre/RS Exposições Coletivas: 2018 Memórias, Doações MACRS 2015-2018, MACRS, Porto Alegre, RS; Placentária, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS; 2017 Cerâmicas, Espaço Cultural São Lucas, PUCRS, Porto Alegre, RS; Novas Paisagens, Galeria Arte & Fato, Porto Alegre, RS; La Cumparsita Assim Somos e Assim nos Vemos 100 Anos Depois, Galeria de Artes Grêmio Náutico União, Porto Alegre, RS; 2016. Paisagem (In)Certa, Centro de Exposições Subte, Montevidéu, Uruguai; Dia dos Escultores, AEERGS, Instituto Estadual de Artes Plásticas (IEAV), Casa de Cultura Mário Quintana, Porto Alegre/RS; 2015 I Bienal C – Mostra Conversas Paralelas na Casa de Cultura Mário Quintana; 2014 Arte + Arte – Visões da Liberdade, Associação Chico Lisboa, Memorial do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS; 2013 Empilháveis, Galeria de Arte do DMAE, Porto Alegre/RS; Mural Coletivo Pasage Saltimbanki, Municipio de Quilmes, Argentina; 2012 Exposição Espaço Massa Movimento, Espaço IAB, Porto Alegre, RS; 2009 ACERGS Panorâmica no Espaço Cultural do Ministério Público, Porto Alegre, RS; ACERGS, O Pote Histórico, Casa de Cultura Mário Quintana, Porto Alegre, RS.
SOBRE O CURADOR
André Venzon (Porto Alegre/RS, 1976)
Artista visual, gestor cultural e curador. Bacharel em Artes Visuais pela UFRGS. Especialista em Gestão e Políticas Culturais pela Universidade de Girona/ESP. Licenciando em Artes Visuais e Mestre em Poéticas Visuais, pelo PPGAV-IA/UFRGS. Presidiu a Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa; foi Conselheiro de Cultura e Vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul; Membro do Colegiado Nacional de Artes Visuais. Dirigiu o Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul e durante a sua gestão o Museu recebeu o Prêmio Açorianos de Artes Plásticas como destaque em espaço institucional, além de vencer duas vezes o Prêmio Marcantonio Villaça para aquisição de acervos. Participou do programa “Museum Study Tour”, intercâmbio entre representantes de alguns dos mais importantes museus da Escócia, Inglaterra e Brasil, a convite do British Council. Integrou com Mônica Zielinsky o Conselho Curatorial do projeto RS Contemporâneo do Santander Cultural de Porto Alegre, onde também realizou a curadoria da exposição “Nem eu, nem tu: nós – a obra de Karin Lambrecht e o olhar do colecionador”, dentro do projeto Pensamentos Curatoriais. Atualmente é coordenador da Galeria Ecarta e integra os cargos de diretor do Instituto Estadual de Artes Visuais – IEAVi, do Museu de Arte Contemporânea do RS – MAC-RS e do Centro de Desenvolvimento da Expressão – CDE.
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SERVIÇO
Exposição “Adriana Giora – No limiar do jardim”
Curadoria: André Venzon
Abertura: 15 de outubro de 2019, das 18h às 21h
Visitação: De 16 de outubro a 8 de dezembro de 2019
Local: Galeria Oscar Boeira do MARGS
Entrada franca
“Conversas com Artistas” e Lançamento de Catálogo
Data: 16.11.2019, às 17h
Sessão de autógrafos: 18h30min
Local: Auditório do MARGS
Entrada Franca
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Produção
Babilônica Arte e Cultura
Patrocínio
Banrisul
BRDE
Sulgás
Apoio
Café do MARGS
Banca do livro
Bistrô do MARGS
Arteplantas
Celulose Riograndense
Oliveira Construções
Tintas Killing
AAMARGS – Associação dos Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli
Realização
Governo do Estado do Rio Grande do Sul
Secretaria de Estado da Cultura do RS
Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli
Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli
Praça da Alfândega, s./n.
Centro Histórico, Porto Alegre, RS
Telefone: 51 32272311
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