O MARGS — Museu de Arte do Rio Grande do Sul, instituição da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac-RS), inaugura no sábado, 30.04.2022, a exposição “Guilherme Dable — Não um tempo, mas um lugar”. A abertura ocorre a partir das 10h30min.
Com curadoria de Francisco Dalcol, diretor-curador do MARGS, e Fernanda Medeiros, curadora-assistente do MARGS, a mostra individual ocupa 2 galerias no 2º andar do Museu, permanecendo em exibição até 14.08.2022.
Guilherme Dable é um dos mais destacados nomes de sua geração, da qual fazem parte artistas que ganharam evidência desde o sul do país a partir dos anos 2000. De um lado, sua trajetória é marcada pela atuação junto ao Atelier Subterrânea (2006-2015), um misto de coletivo de artistas e espaço independente que fez história em Porto Alegre ao renovar e dinamizar o ambiente artístico local. De outro lado, sua obra é caracterizada pela investigação que tem desenvolvido em torno dos campos do desenho e da pintura, acionando outros meios como vídeo, instalação e performance.
Tendo nos últimos anos circulado com exposições e projetos por diversos centros artísticos e instituições do Brasil e também do exterior (Paris, Londres, Nova York), Guilherme Dable ainda não havia apresentado em Porto Alegre uma exposição individual mais extensa e abrangente de sua produção e percurso.
Além de focalizar o momento atual da produção do artista, a mostra do MARGS também recua no tempo para conferir legibilidade à sua obra e trajetória constituídas até aqui. Assim, mediante uma reunião significativa e representativa de obras, é trazida a público uma compreensão mais ampla de sua produção.
Nesse sentido, algumas obras apresentadas na galeria Iberê Camargo e na sala Oscar Boeira do MARGS expandem as convenções do desenho e da pintura, assinalando a porção mais experimental da pesquisa do artista. São os casos da instalação “o samba ainda não chegou” (2016-2022), do vídeo “o domador” (2015) e da instalação com desenhos e som “Tacet” (2008-2012), que integra o Acervo do MARGS. No conjunto, há obras de coleções particulares, além de acervos de instituições como Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAM-Rio) e da Fundação Vera Chaves Barcellos (FVCB).
A exposição é concebida para pontuar e assinalar o momento de adensamento da produção e de maturidade da trajetória do artista, sobretudo pelo alcance de sua atuação nos últimos anos, ao mesmo tempo marcando sua primeira mostra no MARGS.
É nesse sentido que “Guilherme Dable — Não um tempo, mas um lugar” integra o programa expositivo do MARGS intitulado “Poéticas do agora”, voltado a artistas atuais cujas pesquisas recentes em poéticas visuais têm se mostrado promissoras e relevantes no campo artístico contemporâneo, tendo por objetivo destacar produções que investem na pesquisa e experimentação de linguagem, bem como na transdisciplinaridade dos meios, operações e procedimentos.
Assim, a presente exposição dá prosseguimento ao programa em sequência às mostras “Bruno Borne — Ponto Vernal (2019/2020), “Bruno Gularte Barreto – 5 CASAS” (2021), “Estêvão da Fontoura: DESOBECIÊNCIA – Arte e ciência no tempo presente” (2021) e “Denilson Baniwa — INÍPO: Caminho de transformação” (2021/2022).
O ARTISTA
A pesquisa de Guilherme Dable (Porto Alegre, 1976) abarca principalmente as linguagens do desenho e da pintura, expandindo-se para investigações que flertam com a ocupação do espaço, não atendo-se somente aos suportes tradicionais das linguagens. O trabalho pensa relações entre arquitetura, paisagem e as características diagramáticas da linguagem do desenho, utilizando-se eventualmente de métodos não-convencionais para produzir desenhos, tais como instrumentos preparados ou mesmo a umidade dos sapatos.
É Doutorando em Poéticas Visuais pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV) do Instituto de Artes (IA) da UFRGS, onde concluiu a graduação e mestrado em Artes Visuais, tendo estudado também com Jailton Moreira, Charles Watson, entre outros.
Apresentou exposições individuais em Londres (Belmacz, 2016), Rio de Janeiro (Galeria Anita Schwartz, 2017), Salvador (Roberto Alban Galeria, 2014), São Paulo (Galeria Eduardo Fernandes, 2013) e Recife (Sala Recife, 2013), além de Porto Alegre (IEAVi, Galeria Gestual e Galeria da UFCSPA).
Entre as coletivas, participou de mostras em Nova York, Londres e Paris, além de cidades brasileiras como Porto Alegre e Rio de Janeiro.
Suas obras estão presentes em coleções como do MAM/Rio, Casa do Olhar Luiz Sacilotto/Santo André e Coleção Gilberto Chateaubriand, além do MARGS, MAC-RS, FVCB e Instituto Ling.
Foi artista residente no Vermont Studio Center (Estados Unidos, 2015) e do Torus Residência Artística (Garibaldi, 2018).
Integrou o Rumos Artes Visuais Itaú Cultural 2011/2013 e o Prêmio Aquisições Marcantonio Vilaça/FUNARTE em 2014.
Foi um dos fundadores e co-gestor do Atelier Subterrânea, espaço independente baseado em Porto Alegre, ativo entre 2006 e 2015.
Sua trajetória também é marcada pela atuação como integrante da banda Tom Bloch.
Vive e trabalha desde Porto Alegre.
TEXTO CURATORIAL
Guilherme Dable — Não um tempo, mas um lugar
Por
Francisco Dalcol, diretor-curador do MARGS
Fernanda Medeiros, curadora-assistente do MARGS
Na pintura de Guilherme Dable, o que se dá a ver como obra não é exatamente a conclusão definitiva e acabada de um processo, e sim a possibilidade de uma interrupção decisiva. Há resolução, contudo como ato de agir sobre a incerteza e a imprevisibilidade que pautam o transcorrer do trabalho. A pintura como que sobrevém de um corte operado por um ato de consciência do caminho percorrido. Resulta de um tempo de embate e ação, mas também e sobretudo de um lugar alcançado.
O elemento fundante é o desenho. No entanto, a linha, ao mesmo tempo que demarca e delimita, deixa-se transbordar. Mesmo sentido de contaminação pode ser dito das referências da música e da literatura e dos procedimentos experimentais, no que têm em comum serem tomados pelo artista como princípios — ou melhor, pretextos — com os quais aciona e ampara em atravessamento o seu modo de observar o mundo e levá-lo para dentro do ateliê, em um constante exercício de perceber e recolher aquilo que repousa sobre as feições do cotidiano e a aparência das coisas.
Essa compreensão nos movimenta ao campo da representação visual, o que pode prenunciar alguma discussão tida por superada ou mesmo trivial, mas que aqui acaba por se recolocar por tornar ainda mais intensa a experiência proporcionada por suas obras, porque as complexifica na medida em que aderem à tonalidade e à espessura da história artística.
Na história da arte, observar a passagem de uma “pintura que representa algo” para uma “pintura que se apresenta nela mesma, como objeto e coisa em si, que cria sua realidade própria” — ou seja: a passagem de uma pintura que narra em registro naturalista com referência a um índice real; para uma pintura que apenas e somente é, por referir-se e expressar-se em si mesma — oferece uma via fundamental para a compreensão do que seria a pintura contemporânea. E que situa onde a pintura de Guilherme Dable se inscreve nessa longeva tradição.
Contudo, e aí está outro dado interessante, isso não significa que querelas antigas como a disputa entre figuração e abstração, por certo ultrapassada em sua simples dicotomia, não possam apontar para novas questões sob outros enquadramentos, uma vez que o tempo histórico, o da arte incluído, irremediavelmente nega o desígnio linear, progressivo e evolutivo, assumindo-se como concomitante com seus recuos, retomadas e mesmo permanências.
A notável tensão entre aspectos figurativos e abstratos nas obras de Guilherme Dable, na coordenação ambivalente e por vezes concorrente entre figura/fundo, superfície/profundidade e planos sobrepostos, renova o entendimento dessa reflexão, redimensionando sua complexidade. E o faz, todavia, rearticulando os elementos figurativos e abstratos em seu habitual entendimento; pois mesmo o aspecto construtivo, as estruturas geométricas e sobretudo os materiais e procedimentos (tintas e cores entre o chapado e a transparência, mas também fitas em colagens presentes ou removidas) não podem ser vistos como absolutamente abstratos, uma vez que seus referentes já estão dados e informados pela forma e matéria, encontrando seus correspondentes como tipo de figuração também.
Paradoxo semelhante pode ser pensado sobre as manchas, os escorridos e os campos de cor, que oscilam entre abundantes e rarefeitos — e sempre como presenças constantes e características em suas obras —, porque também aí o caráter informal e gestual habitualmente vinculado à abstração acaba por encontrar seus índices a partir de uma ambiguidade da figuração ocasionada pelo nosso repertório de imagens.
Por tudo isso, a pintura de Guilherme Dable é exemplar, uma vez mais, da investida da linguagem pictórica contemporânea em confrontar e jogar com as fronteiras limítrofes dos pressupostos erguidos pelo abstracionismo, informalismo, construtivismo e expressionismo. Pois é na opacidade dessas zonas aparentemente delimitadas, porque porosas e desdefinidas, que repousa um dos aspectos mais interessantes da pesquisa visual, conceitual e poética do artista. Do que advém um interesse sempre renovado nos desdobramentos do percurso de sua produção.
***
Desde 2014, ano da até então última individual de Guilherme Dable em Porto Alegre, a pesquisa e experimentação têm levado sua pintura a outros lugares. Os campos de cor, antes mais mínimos e discretos enquanto detalhe, ganharam maior presença e ampliaram a luminosidade das telas, impondo-se junto às manchas e aos escorridos. Ao mesmo tempo, a operação com planos, estruturas e padrões geométricos intensificou o tensionamento figurativo/abstrato, agora em vibrações flutuantes. Como efeito, dessas pinturas salta um sentido de maior exuberância explicitada e afirmada.
Além de focalizar esse momento atual da produção do artista, esta exposição também recua no tempo para conferir a legibilidade à sua obra e trajetória constituídas até aqui. Assim, mediante uma reunião significativa e representativa de obras procedentes de acervos de instituições e coleções particulares, é trazida a público uma compreensão mais ampla de sua produção.
Nesse sentido, algumas obras do conjunto apresentado na galeria Iberê Camargo e na sala Oscar Boeira do MARGS expandem as convenções do desenho e da pintura, assinalando a porção mais experimental da pesquisa do artista.
“Tacet” (2008-2012) — que integrou o Rumos Itaú Cultural e foi apresentado no MARGS, passando a integrar o acervo do Museu — resulta de uma performance musical cujo improviso com os instrumentos sobre papel carbono gera o conjunto de desenhos, que se fazem acompanhar do registro do som no espaço expositivo.
Sentido semelhante da implicação do aleatório e da imprevisibilidade está em “shelterruin/ruínaabrigo” (2014). Nesse desenho criado para o chão, apresentado em Londres e pertencente ao acervo da Fundação Vera Chaves Barcellos (FVCB), o mosaico de padronagens a partir do tijolo cobogó se deixou influenciar pela ação dos pés dos visitantes sobre o lápis aquarelável.
É também do acaso que surge o vídeo “o domador” (2015), pertencente ao acervo do MAM-Rio, no qual uma grande folha de papel mantém-se flanando verticalmente ao lidar com forças laterais que funcionam como contrapesos e sustentação gravitacional. Aqui, trata-se de um acontecimento de casualidade capturado durante o trabalho de ateliê na residência que o artista realizou no Vermont Studio Center, nos Estados Unidos.
Por fim, a instalação “o samba ainda não chegou” (2016-2022). Com título inspirado na música “Desde que o samba é samba”, de Caetano Veloso e que integra o álbum “Tropicália 2” (1993), o trabalho apresentado em uma individual do artista em Londres insinua uma espécie de devoração antropofágica de elementos populares e eruditos, das estampas de azulejos modernistas ao estilo Athos Bulcão às folhagens de um Brasil ancestral e tropical.
Ao tão bem explicitar a articulação “abstrato-figurativa/geométrico-construtiva/informal-gestual” no trabalho de Guilherme Dable, “o samba ainda não chegou” oferece também uma espécie de epítome desta exposição.
***
Guilherme Dable é um dos mais destacados nomes de sua geração, da qual fazem parte artistas que despontaram e ganharam evidência desde o sul do país a partir dos anos 2000.
De um lado, sua trajetória é marcada pela atuação junto ao Atelier Subterrânea (2006-2015), um misto de coletivo de artistas e espaço independente que fez história em Porto Alegre ao renovar e dinamizar o ambiente artístico local em interlocução com artistas e agentes de outros meios artísticos.
De outro lado, sua obra é caracterizada pela investigação que tem desenvolvido em torno dos campos do desenho e da pintura, acionando outros meios como vídeo, instalação e performance. Trata-se de uma produção que se desenvolve tanto em nível profissional como acadêmico, tendo em conta sua atuação como artista representado por galerias e a sua formação universitária que envolve graduação, mestrado e doutorado em artes visuais.
Tendo nos últimos anos circulado com exposições e projetos por diversos centros artísticos do Brasil e também do exterior (Paris, Londres, Nova York), Guilherme Dable ainda não havia apresentado em Porto Alegre uma exposição mais extensa e abrangente de sua produção e percurso.
Assim, esta individual é concebida justamente para pontuar e assinalar o momento de adensamento da produção e de maturidade da trajetória do artista, sobretudo pelo alcance de sua atuação nos últimos anos, ao mesmo tempo marcando sua primeira mostra no MARGS.
É nesse sentido que “Guilherme Dable — Não um tempo, mas um lugar” integra o programa expositivo do MARGS intitulado “Poéticas do agora”, voltado a artistas atuais cujas pesquisas recentes em poéticas visuais têm se mostrado promissoras e relevantes no campo artístico contemporâneo, tendo por objetivo destacar produções que investem na pesquisa e experimentação de linguagem, bem como na transdisciplinaridade dos meios, operações e procedimentos.
SERVIÇO
Exposição “Guilherme Dable — Não um tempo, mas um lugar”
Quando: abertura 30.04.2022, às 10h30min. Em exibição até 14.08.2022
Onde: MARGS — Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Praça da Alfândega s/nº, Porto Alegre, RS). Galeria Iberê Camargo e sala Oscar Boeira, no 2º andar do Museu
Visitação: terça-feira a domingo, das 10h às 19h (último acesso 18h30), sempre com entrada gratuita, sem necessidade de agendamento. O MARGS também oferece ao público visitas mediadas para grupos de até 6 pessoas, de quinta-feira a sábado, em 2 faixas de horários (10h30 às 12威而鋼
h e 14h às 15h), mediante agendamento prévio no Sympla (www.sympla.com.br/produtor/museumargs).
MARGS | MUSEU DE ARTE DO RIO GRANDE DO SUL
Instituição museológica pública, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura do RS, voltada à história da arte e à memória artística, assim como às manifestações, linguagens, investigações, pesquisas e produções em artes visuais.
O MARGS realiza seus projetos por meio do Plano Anual via Lei de Incentivo à Cultura Federal, gerido pela Associação de Amigos do Museu (AAMARGS). O Plano Anual 2021 (Pronac: 203582) conta com os seguintes patrocinadores e apoiadores.
Patrocínio
BRDE
CMPC Celulose Riograndense Ltda
Sulgás
Vero Banrisul
Apoio
Café do MARGS
Banca do Livro
Bistrô do MARGS
Arteplantas
Tintas Killing
iSend
Realização
Governo do Estado do Rio Grande do Sul
Secretaria de Estado da Cultura do RS
MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul
AAMARGS – Associação dos Amigos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul
MARGS
Praça da Alfândega, s/n°
Centro Histórico, Porto Alegre, RS
90010-150
Visitação de terça a domingo, 10h às 19h, entrada gratuita
Telefone: (51) 3227-2311
Site: www.margs.rs.gov.br
Facebook: https://www.facebook.com/museumargs
Instagram: www.instagram.com/museumargs