Com a reabertura em 22.10.2020, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), instituição vinculada à Secretaria de Estado da Cultura do RS (SEDAC), retorna com 4 exposições temporárias e novidades na mostra de longa duração do Acervo Artístico do Museu.
Até 29.11.2020, o público poderá conferir as individuais “Túlio Pinto — Momentum”, “Bruno Borne — Ponto vernal” e “Mariza Carpes — Digo de onde venho”, além da coletiva “Gostem ou não — Artistas mulheres no acervo do MARGS”. As exposições foram inauguradas ao longo do mês de dezembro de 2019, e interrompidas em 18.03.2020 em razão do fechamento do Museu em enfrentamento à pandemia do Covid-19.
Já o programa expositivo “Acervo em movimento”, também interrompido como fechamento a público, retorna agora com a exposição de longa duração totalmente renovada, com substituição integral das obras em exibição.
Esta nova configuração presta algumas homenagens, ao mesmo tempo em que estabelece uma relação com ações e conteúdos desenvolvidos pelo Museu em suas plataformas digitais durante o fechamento ao público.
Nesse sentido, três artistas são homenageados/as pelos seus centenários de nascimento: Carlos Scliar (1920-2001), Fayga Ostrower (1920-2001) e Wilbur Olmedo (1920-1998).
Além disso, são homenageadas duas artistas que faleceram durante a pandemia: Aglaé Machado de Oliveira — AMO (1929-2020) e Francesca Coniglio Ducceschi (1920-2020).
Por fim, a mostra presta tributos ao artista Luiz Gonzaga (1940-), que celebra seus 80 anos em 2020, e ao fotógrafo Luiz Carlos Felizardo (1949-), tema do documentário em curta-metragem “Um fotógrafo na estrada”, lançado em julho pela Associação de Amigos do Museu (AAMARGS) pelo projeto “Acervo MARGS”, que apresenta e homenageia artistas que integram o Acervo Artístico do MARGS.
“Acervo em movimento” é uma exposição de longa duração, porém viva e dinâmica, uma vez que opera com um modelo curatorial-expositivo de rotatividade de obras do acervo do MARGS, com substituições que se alternam marcando distintos períodos expositivos.
Baseado no Acervo do MARGS, o programa expositivo consiste em um exercício experimental de curadoria com as equipes do Museu, que atuam no desenvolvimento da mostra em regime compartilhado. Esse experimento teve início em março de 2019, marcando a estreia da atual gestão do MARGS.
“Acervo em movimento” integra uma política institucional de exibição dedicada a explorar estratégias de abordagem do acervo do Museu por meio de exercícios curatoriais voltados à experimentação de modelos expositivos.
As exposições seguem em exibição até 01.12.2020. Com o encerramento simultâneo de todas as exposições e suas desmontagens, o MARGS fecha à visitação do público a fim de estar em condições de receber a reforma de melhorias, que envolve a substituição do sistema de climatização e o restauro arquitetônico da parte superior do prédio do Museu. A previsão é que esta parte da obra do sistema de climatização seja concluída até março de 2021, permitindo a partir daí a reabertura do Museu para visitação pública com o gradual e parcial retorno das exposições. Já a reforma arquitetônica — que envolve o terraço, a claraboia e os quatro torreões do prédio — prosseguirá nos meses seguintes, com conclusão prevista para setembro de 2021.
“Acervo em movimento”
O Acervo Artístico do MARGS guarda mais de 5.600 obras de arte do século 19 à atualidade, de artistas brasileiros e estrangeiros. Abrange, assim, desde produções regidas pelos modelos acadêmicos, passando pelas rupturas das manifestações dos modernismos em diferentes geografias, até chegar à pluralidade dos desdobramentos operados pelas práticas artísticas contemporâneas.
“Acervo em movimento” é um programa expositivo concebido em 2019 para trazer a público esse rico e diversificado acervo, por meio de uma exposição de longa duração que se vale da estratégia de rotatividade do que está exposto.
Assim, obras entram e saem da exposição com o objetivo de manter uma renovação frequente e constante do conjunto em exibição.
As alterações se dão segundo escolhas propostas pela curadoria do Museu e em colaboração com as equipes, que exercitam de modo compartilhado e transversal um mesmo método de organização de uma mostra dedicada a exibir o acervo.
Para que o público acompanhe a dinâmica de substituições das obras, bem como as configurações assumidas pela exposição em suas diferentes fases e momentos, a data de entrada de cada trabalho consta informada em sua etiqueta.
Fundamentado por noções de dispositivo, montagem e display, o modelo de exposição recombinante adotado por “Acervo em movimento” lança mão de um processo curatorial de caráter experimental.
Cada mudança — em parte ou no todo da mostra — opera o que passamos a denominar como “nova virada da exposição”, sendo sempre concebida como uma resposta à configuração anterior, e por vezes até às outras exposições no mesmo momento em exibição no Museu, estabelecendo diálogos com as demais salas e galerias.
Com a estratégia de rotatividade das obras expostas, as substituições geram recombinações que procuram propor novas relações e chaves de compreensão, oferecendo ao público uma exposição sempre viva e dinâmica, que aposta mais na experiência da descoberta do que na orientação do discurso.
O interesse é sondar as provisórias relações de vizinhança estabelecidas entre as obras, assim como as tensões das partes com o todo, propondo desdobramentos que intensificam e multiplicam as formas de ver, sentir e reagir.
Parte-se do entendimento de que obras de arte não “falam” apenas por si mesmas, uma vez que seus sentidos são também efeito do que podem produzir no interior dos territórios relacionais e narrativos que uma exposição é capaz de colocar em causa.
Assim, esta exposição pergunta ao visitante: quais podem ser as relações entre trabalhos distintos e de diferentes épocas, contextos e linguagens?
O convite é que o público constitua os seus caminhos interpretativos, estabelecendo os seus próprios encontros, relações e conexões, os quais sempre envolvem o que já sabemos, a expectativa do que ainda não vislumbramos e o estranhamento transformador da experiência inesperada e arrebatadora.
Ao abrir mão de agrupamentos segundo roteiros lineares e predeterminados por categorias e convenções como técnica, suporte e tipologia, assim como por recortes geográficos de origem e pertencimento, “Acervo em movimento” se alinha às discussões que reavaliam o processo histórico da modernidade artística em sua noção de desenvolvimento cronológico, evolutivo e sucessivo.
Assim, procura-se oferecer um exame crítico de hierarquias, assimetrias e leituras consensuais que reiterariam a construção de um cânone entre as obras do acervo do MARGS, cujo caráter excludente é aqui reavaliado à luz de questões contemporâneas em favor da exigência de maior compromisso com pluralidade, diversidade, inclusão e representatividade.
Em sua proposição, “Acervo em movimento” busca mobilizar questões prementes que orientam a visão curatorial e linha de atuação da direção artística do MARGS, como a necessidade de se descolonizar narrativas hegemônicas, dessacralizar a retórica dos discursos canônicos, tensionar hierarquias dominantes e explicitar as presenças e ausências em acervos e exposições.
Como programa expositivo que marcou a estreia da gestão 2019-2022 do MARGS, “Acervo em movimento” é um programa de caráter permanente que integra a política institucional de aquisições e divulgação do acervo do Museu, instituído com o objetivo de explorar estratégias de abordagem de sua exibição por meio de processos curatoriais voltados à experimentação de estratégias expositivas.
Francisco Dalcol
Diretor-curador do MARGS
Doutor em Teoria, Crítica e História da Arte