Túlio Pinto — Momentum

Produção do artista é marcada pelo uso de materiais como metal, pedra e vidro;
os quais são mobilizados e articulados em mecanismos e sistemas que exploram os equilíbrios,
os pesos e as tensões das formas, dos arranjos e das composições que os configuram

Para receber a exposição do artista, as Pinacotecas passaram por uma grande e impactante
transformação visual: o piso das 3 galerias será totalmente revestido por uma cobertura acarpetada,
com o objetivo de anular as cores e os motivos decorativos dos ladrilhos

 

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) apresenta a exposição “Túlio Pinto — Momentum”, que traz a público um conjunto de esculturas, objetos e instalações realizadas nesta década, incluindo alguns trabalhos inéditos.

A curadoria é do diretor-curador do MARGS, Francisco Dalcol, que desenvolveu com o artista uma exposição concebida para proporcionar ao público uma profunda e intensa experiência a partir de uma ampla exposição de caráter escultórico e instalativo, destacando um conjunto de obras de grande porte e dimensões.

Inaugurada em 14.12.2019 e interrompida em 18.03.2020 em razão do fechamento do Museu em enfrentamento à pandemia do Covid-19, a mostra retorna com a reabertura em 22.10.2020, juntamente a 3 exposições temporárias e novidades na mostra de longa duração do Acervo Artístico do Museu.

As exposições seguem em exibição até 01.12.2020. Com o encerramento simultâneo de todas as exposições e suas desmontagens, o MARGS  fecha à visitação do público a fim de estar em condições de receber a reforma de melhorias, que envolve a substituição do sistema de climatização e o restauro arquitetônico da parte superior do prédio do Museu. A previsão é que esta parte da obra do sistema de climatização seja concluída até março de 2021, permitindo a partir daí a reabertura do Museu para visitação pública com o gradual e parcial retorno das exposições. Já a reforma arquitetônica — que envolve o terraço, a claraboia e os quatro torreões do prédio — prosseguirá nos meses seguintes, com conclusão prevista para setembro de 2021.

A exposição

Para receber a proposição do artista, pensada especialmente para o espaço expositivo mais amplo e nobre do museu, as Pinacotecas passaram por uma grande e impactante transformação visual: o piso das 3 galerias foi totalmente revestido por uma cobertura acarpetada, com o objetivo de anular as cores e os motivos decorativos dos ladrilhos, transformando o espaço em um grande “cubo branco” que privilegia a visualidade e a presença dos objetos escultóricos ali instalados.

Tendo nos últimos anos cruzado continentes, circulando por diversos países com exposições em instituições, museus, galerias, feiras, eventos e programas de residência — em 2019, o ponto alto foi uma mostra sua em Veneza durante a Bienal —, Túlio Pinto não apresentava uma individual em Porto Alegre desde 2013.

Nesse sentido, a mostra “Momentum” chega justamente para pontuar e celebrar o momento de adensamento da produção e de maturidade da trajetória do artista, sobretudo pelo alcance de sua atuação nos últimos anos, ao mesmo tempo marcando sua primeira exposição individual no MARGS.

Em sequência à mostra apresentada nas mesmas Pinacotecas em homenagem ao centenário de Francisco Stockinger, um artista notadamente vinculado ao ideário da arte moderna, “Túlio Pinto — Momentum” oferece agora uma circunstância para se pensar e experenciar os desdobramentos operados pelas pesquisas contemporâneas das linguagens escultóricas, em um campo já expandido de possibilidades, e no qual a abordagem da tridimensionalidade e da espacialidade se aprofunda pelo pensamento e práticas do artista, que exploram uma intensificada fundamentação conceitual, visual e poética.

Na abertura em 14.12.2019, foi realizada uma conversa com Túlio Pinto no auditório do Museu, com a presença da curadora e crítica de arte Angélica de Moraes, integrando o programa público da exposição (as atividades da programação serão divulgadas durante o período expositivo).

Já durante a abertura, o artista Diego Passos realizou uma performance ao vivo diante do público, colaborando com um trabalho concebido por Túlio Pinto a partir dos materiais e da linguagem de suas próprias esculturas e objetos.

Clique aqui e veja o fôlder da exposição

 

 

O artista e sua pesquisa

Com formação pelo Instituto de Artes da UFRGS e pelo Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, cidade onde vive e desde onde atua, Túlio Pinto (1974) foi um dos criadores e integrantes do Atelier Subterrânea (ativo entre 2006 e 2015).

Sua produção é marcada pelo uso de materiais como metal, pedra e vidro; os quais são mobilizados e articulados pelo artista em arranjos, mecanismos, composições e sistemas matérico-objetuais que lidam com pesos, forças, equilíbrios, tensões e os seus limites. São pedras, vigas de aço, lâminas e bolhas de vidro, cubos e estruturas de metal; os quais se sustentam e se acoplam por cabos, roldanas, barras, vigas, pedras pendulares e porções de areia, entre outros.

Desse procedimento, resultam esculturas, objetos e instalações que exploram as potencialidades físicas e visuais dos materiais e das formas que assumem.

 

Biografia resumida

Túlio Pinto (Brasília, 1974) é formado em Artes Visuais (2009, ênfase em escultura) pelo Instituto de Artes (IA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Foi um dos criadores e integrantes do Atelier Subterrânea (ativo entre 2006 e 2015).

Em suas esculturas, objetos e instalações, explora os equilíbrios, os pesos e as tensões dos materiais, das formas e dos sistemas que os configuram.

Iniciou sua produção e trajetória em pintura, a partir de 2004, no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, tendo estudado a seguir no Parque Lage do Rio de Janeiro.

Recebeu diversos prêmios no Brasil e no Exterior e, nos últimos anos, realizou residências artísticas em países como Ucrânia, Canadá, Portugal, Estados Unidos, Inglaterra, Uruguai , Holanda e Espanha.

Tem apresentado exposições individuais e participado de coletivas no Brasil e no exterior. Um dos destaques mais recentes é a individual “Land Line”, em Veneza, na Itália, apresentada pela Galeria PieroAtchugarry durante a 58ª Exposição Internacional de Arte – LaBiennaledi Venezia.

Em Porto Alegre, sua última mostra individual havia sido “De territórios, abismos e intenções”, em 2013, no Santander Cultural, pelo Projeto RS Contemporâneo.

Seus trabalhos integram acervos de instituições e coleções particulares no Brasil e no exterior.

Vive e trabalha desde Porto Alegre.

 

Texto curatorial

Diante das obras de Túlio Pinto, somos invariavelmente acometidos por uma experiência impactante, a um só tempo também instigante e não menos desconcertante.

Lidando com a tensão e o equilíbrio levados aos extremos de seus limites, suas peças e conjuntos escultóricos nos atingem como um sedutor apelo à visão, por conta da clareza, da concisão e da harmonia que emanam.

Ao mesmo tempo, são obras que nos tornam conscientes da nossa presença, como parte integrante das situações que instauram; o que nos leva a perceber os nossos próprios corpos como parte constitutiva da experiência do ver e do sentir.

Situados entre a escultura e a instalação — explorando, portanto, a tridimensionalidade e a espacialidade —, os trabalhos de Túlio Pinto resultam da elaboração de mecanismos e sistemas que exploram e articulam as potencialidades físicas e visuais dos materiais e das formas. São pedras, vigas de aço, lâminas e bolhas de vidro, cubos e estruturas de metal; os quais se sustentam e se acoplam por cabos, roldanas, barras, vigas, pedras pendulares e porções de areia, entre outros.

Essas obras encontram sua linguagem visual e seu fundamento conceitual-poético não apenas na feição da matéria e nos modos com que é mobilizada e empregada; mas, sobretudo, nos tensionamentos e confrontos que estabelecem entre rigidez e fragilidade, força e resistência, equilíbrio e queda.

Trata-se de uma produção orientada por um pensamento escultórico que lida, acima de tudo, com o movimento — ou, mais precisamente, com a sua contenção e anulação —, entendendo aqui a acepção mais tradicional, a da física mecânica, que define ser o movimento a variação de um ponto ou objeto no espaço em relação ao tempo.

Contudo, a noção de movimento pode ser pensada de diversos modos no trabalho de Túlio Pinto, sempre operando um deslocamento, seja dos materiais ou dos corpos, tanto do artista como do observador.

A partir desse entendimento, é como se os seus trabalhos transferissem a sedução inicial advindo do arranjo formal para o equilíbrio que encontram na tensão precisa investida na sustentação das estruturas. Nesse sentido, a ênfase que o olhar dirige à estrutura é conduzida para o sistema de forças que mantém o mecanismo estendido no limite de seu colapso. Estar entre um e outro é também se colocar em movimento.

Assim, frente a tais obras, somos seduzidos pelas operações que as engendram, pela visualidade que adquirem e, acima de tudo, por aquilo que insinuam, ameaçam ou sugerem estar momentaneamente interrompido — ou na iminência de acontecer. Levados a essa profunda e elevada experiência da percepção do visível e do sensível, somos mais do que apenas e meros observadores daquilo que as obras proporcionam, uma vez que passamos a participar de um espaço-tempo específico, porque são peças e objetos que se espacializam no tempo ao mesmo tempo que se temporalizam no espaço.

***

Essas linhas de força que configuram, perpassam e contingenciam os trabalhos de Túlio Pinto podem ser ainda melhor percebidas e compreendidas à luz da história da arte e das práticas artísticas que se seguiram aos anos 1960.

Ao privilegiar uma prática escultórica enquanto campo expandido, Túlio Pinto dá corpo a uma obra que, sob o ponto de vista dos aspectos formais e processuais, encontra antecedentes na herança minimalista e em nomes como Anthony Caro, Charles Ginnever, Carl Andre, David Smith, Donald Judd, Giovanni Anselmo, Mark di Suvero, Richard Serra, Robert Morris e Tony Smith.

A mesma aproximação vale para as chamadas neovanguardas, a exemplo dos conceitualismos, da land art, das performances, das instalações, da site-specificity, do in-situ e das práticas que enfatizam o processo e o espaço.

Não se trata, contudo, de encapsular a produção de Túlio Pinto em uma leitura estritamente vinculada a paradigmas críticos e teóricos, notadamente os de matriz norte-americana da segunda metade do século 20, operação esta dada como insuficiente. Até porque, em suas peças e conjuntos escultóricos, é também possível identificar aspectos ressoantes das vertentes construtivas da arte brasileira dos anos 1950 e 60, desde o pensamento geométrico das formas aliado ao pensamento sobre os materiais, a exemplo de Amilcar de Castro e Franz Weissmann até os diálogos estabelecidos com o vocabulário formal e conceitual de artistas brasileiros contemporâneos como Cildo Meireles, José Resende, Nelson Felix, Nuno Ramos e Waltercio Caldas.

Com suas proposições experimentais que se materializam ao concatenar o mundo das leis físicas em potência plástica, Túlio Pinto confere particularidades a seu trabalho diante da produção contemporânea, por conta das articulações tensas e limítrofes entre duas dimensões: a sugestão de equilíbrio precário e a sensação de queda iminente.

Em nenhum caso anulando verdadeiramente as linhas de força que incidem sobre os objetos e os corpos, até porque essas forças estão ali trabalhando, tensionando-se, como um sistema provisoriamente resolvido, ainda que comungando do mesmo silêncio dos materiais, que são levados às fronteiras limítrofes da resistência que suportam.

No que esses tensionamentos podem oferecer e sugestionar, Túlio Pinto atesta que é nos limites que podemos experimentar um fascínio singular do nosso estar no mundo.

***

“Túlio Pinto — Momentum” traz ao MARGS uma proposição do artista para as Pinacotecas, apresentando uma seleção de trabalhos de anos recentes, incluindo alguns inéditos, cuja ocupação no espaço expositivo, o mais nobre do museu, foi pensada para proporcionar ao público uma profunda e intensa experiência a partir de uma ampla exposição de caráter escultórico e instalativo.

Tendo nos últimos anos cruzado continentes, circulando por diversos países com exposições em instituições, museus, galerias, feiras, eventos e programas de residência — em 2019, o ponto alto foi uma mostra sua em Veneza durante a Bienal —, Túlio Pinto não apresentava uma individual em Porto Alegre desde 2013.

Nesse sentido, “Momentum” chega justamente para pontuar e celebrar o momento de adensamento da produção e de maturidade da trajetória do artista, sobretudo pelo alcance de sua atuação nos últimos anos, ao mesmo tempo marcando sua primeira exposição individual no MARGS.

Em sequência à mostra nas mesmas Pinacotecas em homenagem ao centenário de Francisco Stockinger, notadamente vinculado ao ideário da arte moderna, “Túlio Pinto – Momentum” oferece agora uma circunstância para se pensar e experenciar acerca dos desdobramentos contemporâneos operados pelas pesquisas das linguagens escultóricas, em um campo já expandido de possibilidades, e no qual a abordagem da tridimensionalidade e da espacialidade se aprofunda por práticas e pensamentos que exploram uma intensificada fundamentação conceitual, visual e poética.

Francisco Dalcol
Diretor-curador do MARGS
Doutor em Teoria, Crítica e História da Arte

 

SERVIÇO

Túlio Pinto – Momentum”

Artista: Túlio Pinto

Curadoria: Francisco Dalcol

Visitação: inaugurada em 14.12.2019 e interrompida em 18.03.2020 em razão do fechamento do Museu em enfrentamento à pandemia do Covid-19, a mostra retorna com a reabertura em 22.10.2020, juntamente a 3 exposições temporárias e novidades na mostra de longa duração do Acervo Artístico do Museu, encerrando em 01.12.2020.

Local: Pinacotecas do MARGS

Entrada gratuita

 

Conversa com o artista Túlio Pinto

Com presença da curadora e crítica de arte Angélica de Moraes

Data: sábado, 14.12.2019

Horário: 15h

Local: Auditório do MARGS

Entrada Gratuita (capacidade de 60 lugares)

 

 

 

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